A professora da UFRRJ também fala do processo de criação de sua obra e de como a Rural serviu de inspiração para a escrita — por Matheus Queiroz
Dizem que escrever para criança não é tarefa fácil. Requer técnica, conhecimento e muita sensibilidade. Angela Marina Bravin juntou todos esses elementos e resolveu mergulhar no universo infantil. Professora do Departamento de Letras e Comunicação da UFRRJ e doutora em Letras Vernáculas pela UFRJ, ela lançou, em outubro de 2016, pela editora Edur sua primeira obra infanto-juvenil, “O Galo Chico”, com ilustrações de Rogério Simonetti, graduado em Belas Artes pela Rural.
O livro, fruto de uma parceria entre os cursos de Letras (texto) e Belas Artes (ilustração), conta a história de um galo que guarda um segredo, e isso faz com que ele se sinta complexado e se afaste de todos os outros animais da fazenda. Nesta entrevista, Angela explica como ocorreu todo o processo que resultou na obra.
O que te motivou a escrever um livro infantil?
Foi o contato com a professora Miriam Pires. Entramos juntas na Rural. Ela já era escritora e já havia publicado vários livros infanto-juvenis. Ela escreveu “Noé” (Edur, 2012) em parceria com o curso de Belas Artes. Por influência desse livro, eu fiz um texto, mostrei para Miriam e ela disse que já estava pronto. Eu nunca pensei em escrever para crianças. Tem que ter técnica, tem que ler muito, não é simples. E, por conta dessa parceria entre os cursos, muitas obras estão surgindo. É uma oportunidade que nós temos de mostrar esse outro lado da comunidade, porque nós temos escritores aqui.
Como foi o processo da escrita do livro?
Eu buscava uma sonoridade. As palavras vinham e eu fui encaixando. Assim, surgiu o texto. Eu não queria uma interpretação, eu queria um som, como o cocoriar do galo.
Como surgiu a parceria com Rogério Simonetti?
Ele já era estagiário de Belas Artes e foi escalado para ilustrar minha obra. Eu não o conhecia. Cada um ficou livre para fazer sua parte e foi muito interessante porque ele conseguiu compreender o que eu idealizava. Ele conseguiu transformar o texto do jeito que eu tinha pensado.
Qual a parte mais difícil de escrever para criança? E a mais gratificante?
A parte mais difícil é fazer um texto com que a criança goste, que prenda a atenção dela. Gratificante é quando a criança comenta algo que gostou, que ficou na cabeça dela, quando ela lembra da história e do nome dos personagens. Você sente que o livro alcançou o efeito desejado. Isso é prazeroso.
Em seu depoimento no livro, você afirma que “essa história está atrelada às várias histórias que ouvi e vivi depois de ser professora da UFRRJ”. Que histórias que você viveu na Rural que serviram de inspiração para o livro?
São muitas. Essa história da Miriam, principalmente, que eu vou levar para o resto da vida, pois foi muito triste (Miriam faleceu em 2013 em virtude de um câncer). As histórias que eu ouvi quando participei do Celing (Centro de Línguas da UFRRJ), porque eu tive contato com muita gente da comunidade de Seropédica e de outras áreas da Universidade. As pessoas que eu conheci aqui na Rural. Eu vim de escola municipal e estadual, eu não tinha experiência de universidade pública. Aqui eu aprendi muito. Aprendi a lidar com as pessoas, a não ficar triste com críticas… E, também, minha história com meu marido, que veio a falecer. Então, muita coisa aconteceu na minha vida depois que eu entrei para a Rural.
Que mensagem você gostaria que o leitor de “O Galo Chico” captasse?
Que não deixe que a inveja permita que você deixe de produzir alguma coisa. Quando a gente tem inveja do outro, a gente se afasta e não olha para dentro de si.
O livro ainda não se encontra disponível para compra no site da Edur.
As ilustrações do livro podem ser vistas no site do designer Rogério Simontetti:
https://rogeriosimonetti.carbonmade.com/projects/5778851