Investigação, jornalismo e Comunicar!
por Igor Medeiros e Letícia Dias
Uma noite de novos conhecimentos e experiências. O quarto dia da 3ª Semana Acadêmica de Jornalismo envolveu temas polêmicos ao tratar da apuração de notícias em áreas de risco. O Jornalismo Investigativo tomou vez, e a discussão contagiou os estudantes que lotaram o auditório Paulo Freire.
|
Foto de Igor Medeiros |
O evento foi aberto com a apresentação musical de Iago Duque, do oitavo período, que interpretou duas canções de Caetano Veloso: “Fora de ordem” e “Você é linda”. Logo após, foram apresentados os palestrantes do dia. A mesa contou com a participação do jornalista e publicitário André Fran e do repórter Che Oliveira, vencedor do prêmio Tim Lopes de Jornalismo Investigativo em 2008, além da professora da UFRRJ Cristiane Venâncio, que conduziu o debate.
Ligado ao jornalismo investigativo e policial, Che Oliveira explicou que o amadurecimento da prática só aconteceu no período pós-ditadura. Essa demora está ligada ao tipo de trabalho de campo. No caso do investigativo, documentos são peças fundamentais na apuração de uma matéria. Che apresentou três trabalhos realizados por ele no Rio de Janeiro, antes do plano de pacificação. O jornalista destacou a mudança do formato televisivo, que passou a dar maior valor às cenas de tiroteio.
– – A partir dos anos 90, as classes A e B passaram a migrar para a tv a cabo, nosso maior público passou a ser o C, D e E.
O convidado também explicou que, com essa mudança no formato, a investigação passou a ser mais perigosa e os riscos maiores. Che lembrou o caso do cinegrafista Gelson Domingos da Silva, morto enquanto cobria uma ação do BOPE no Rio de Janeiro, e também do assassinato de Tim Lopes, em 2002. Ao ser questionado por qual motivo escolheu o seguimento investigativo, afirmou não ter sido proposital.
– Eu fazia estágio na Folha de Imprensa e um professor meu me convidou para estagiar na Bandeirantes, em 1997. Aproveitava que não tinha repórter às 7 da manhã e acabava me enfiando nesse tipo de matéria para exercitar.
O processo para obter fontes confiáveis também foi pauta na palestra. Para Che, informantes são adquiridos com o tempo e para isso é preciso cativá-los. Um policial pode ser uma fonte interessante. Da mesma forma, um bandido que tem informações relevantes pode ser essencial na apuração do caso.
Já André Fran falou sobre suas viagens para o reality show em que trabalha no momento, “Não Conta Lá em Casa”, para o canal de TV Multishow. Sua proposta de fazer um jornalismo diferente consiste em viajar, na companhia de mais dois amigos, e relatar a cultura de diferentes países. André contou que, antes do atual trabalho, produzia clipes musicais e propagandas comerciais. O interesse pela vida na estrada surgiu em 2004, após a ocorrência do tsunami na Indonésia. O objetivo era mostrar a situação local por meio de vídeos e incentivar as pessoas a ajudarem o país. O projeto foi lançado de forma independente, mas o retorno do público fez com que a iniciativa ganhasse espaço e continuidade. Atualmente, o programa está no fim de sua sexta temporada, com a cobertura da jornada à Israel e Palestina.
– A gente queria, humildemente, mudar o mundo. Só isso – declarou.
Quando questionado sobre a preocupação e a importância estética da imagem, Fran alegou que deseja sempre apresentar histórias que mereçam destaque de uma forma mais atraente, com imersão maior na realidade. Para ele, o formato tem dado certo, de modo que os jovens também consigam se identificar. O jornalista também narrou algumas das suas experiências na Coréia do Norte.
Tema do próximo dia de debates da Comunicar!, a mídia NINJA igualmente foi abordada tanto por Che como por André. O primeiro enumerou as diferenças entre o jornalismo comum e o praticado pela “nova mídia”, já o segundo comparou as formas como as manifestações no Brasil e no mundo são midiatizadas em seus respectivos lugares. André aproveitou a oportunidade para mostrar um dos frutos do reality “Não Conta Lá em Casa”, um livro homônimo, que foi sorteado entre os alunos. Se você infelizmente perdeu as palestras ou quer conhecer melhor o trabalho desses dois jornalistas, seguem abaixo alguns links interessantes:
Canal do Che Oliveira no Youtube
Matéria do Che Oliveira, ganhadora do Prêmio Tim Lopes de Jornalismo Investigativo em 2008