Palestra com o fundador da Agência de Notícias das Favelas

por Talyta Magano

Há 20 anos trabalhando com as favelas do Rio de Janeiro, o jornalista André Fernandes concedeu palestra no dia 17, no Salão Azul (P1), para alunos e professores interessados em conhecer a trajetória da Agência de Notícias das Favelas (ANF), fundada por ele em 2001.

Foto Bruna Rodrigues

Organizado pela professora do curso de Jornalismo Cristiane Venâncio, o evento objetivou apresentar o trabalho realizado por Fernandes que, inclusive, foi retratado no livro Abusado, do jornalista Caco Barcelos, como o personagem Kevin Vargas.


De classe média, filho de pai médico e mãe advogada, André Fernandes sempre se sensibilizou com as causas dos menos favorecidos socialmente. Ele já foi fuzileiro naval e na época largou tudo para ser missionário do projeto evangélico Jovens Com Uma Missão (Jocum). 

– Através do trabalho com missões, comecei minha aventura pelas favelas. O que me fez seguir esse caminho foram as mazelas que nós vemos em todos os cantos do país – explicou. 

A ANF foi criada há 13 anos com o surgimento do primeiro site, a partir do sonho de Fernandes em democratizar o escoamento das informações sobre as favelas. Uma semana depois de seu lançamento, a Reuters, agência de notícias europeia, foi a primeira a noticiar a criação de uma agência de notícias de favelas. 

Prestes a lançar um livro sobre sua trajetória, Fernandes contou que o objetivo principal da ANF é falar sobre cidadania de dentro para fora. Ou seja, levar informação aos que não possuem oportunidades, a partir das experiências do local em que vivem. Ele frisou, durante a palestra, principalmente, a importância de dar voz ao povo e levar um pouco mais da cultura das favelas para além das suas barreiras. 

André Fernandes em foto de Bruna Rodrigues

Ao contrário do que as pessoas pensam, André Fernandes só obteve o diploma de jornalista depois do início do projeto. Segundo ele, para aproveitar o engajamento na área, aceitou a bolsa para cursar jornalismo no Centro Universitário de Maringá (CESUMAR), no Paraná. O convite veio de um Pastor que ele conheceu durante sua jornada missionária. Foi quando se mudou com a família e se permitiu um tempo para relaxar em meio a tantas emoções à frente da Agência. Durante 13 anos liderando a Agência, o jornalista foi ameaçado de morte duas vezes, mas isso não foi suficiente para impedi-lo de prosseguir.


Após quatro anos no Paraná, retornou ao Rio de Janeiro com novo gás para alavancar novamente a Agência de Notícia das Favelas: o site foi remodelado e o jornal impresso emplacava mais exemplares. Hoje, o site atrai, em média, 15.000 visitantes únicos e o jornal impresso A voz da favela circula com 50.000 exemplares, por R$0,50.  

Os planos para o futuro são grandes. Fernandes deseja levar o jornal para as bancas de todo o Estado e ter, pelo menos, um correspondente em cada favela do mundo – atualmente já existem representantes em São Paulo e Belo Horizonte:

– Tudo o que aconteceu até agora é pouco diante de tudo que pode vir a acontecer.

Sobre a implantação das Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs), ele indagou se a inserção dessa política é suficiente para acabar com os problemas das favelas cariocas. De acordo com o jornalista, esta medida não basta. É preciso olhar para além do tráfico, pois falta saneamento e educação.

O portal da ANF funciona com jornalismo colaborativo. Quem quiser escrever textos, basta entrar no site (www.anf.org.br) e solicitar participação. A Agência também está presente nas redes sociais, tanto no Facebook (/agenciadenoticiasdasfavelas) como no Twitter (/noticiasfavelas).

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