Rural recebe arte de Rui de Oliveira
por Andressa Braga, Cleiton Bezerra, Flávio Jr., Leandro Marlon, Mariana Ribeiro e Talyta Magano
Com um misto de talento e simplicidade, o artista plástico Rui de Oliveira guiou os alunos da UFRRJ por um mundo repleto de inspiração e muita arte no 1º dia da exposição Rui de Oliveira: Mostra de Ilustração e Livros, na sexta-feira (10). O evento foi organizado por Alexandre Guedes e Marisa Vales, ambos professores do curso de Belas Artes .
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Foto de Mariana Ribeiro |
A sala de exposições, localizada no 1º andar do Prédio Principal (P1), abrigará, até início de abril, ilustrações dos principais trabalhos do artista, como dos livros Chapeuzinho Vermelho e outros contos por imagem, de Rui e de Luciana Sandroni, e A Tempestade, de William Shakespeare.
Ao iniciar a visita guiada, o artista enfatizou que ali estavam expostas histórias e momentos diferentes de vida. E é justamente essa alternância temporal, segundo ele, que caracteriza o trabalho do ilustrador.
– Cada livro desses é uma história diferente, e procuro da melhor maneira possível transmitir isso na obra. Sempre com a noção de que você está ilustrando aquele livro e, logo em seguida, outro livro, com outra história.
De forma dinâmica, o artista desvelou cada quadro exposto na sala. Sem titubear ou se importar em falar demais, foi dada uma “aula” de artes tanto para alunos de Belas Artes como para visitantes de outros cursos e da própria comunidade. Enquanto explicava seu processo de criação, Rui dava dicas para os iniciantes na área de como conseguir melhores resultados em seus trabalhos.
O ilustrador abordou também a questão do tempo necessário para o trabalho. Para ele, não adianta prazos e cobranças, mas o que deve ser levado em conta é o tempo da sua criação.
– Cada trabalho é extremamente lento. Eu sou extremamente lento para trabalhar. Não me cobrem prazo de nada. Isso quer dizer que o ilustrador tem o seu tempo, o tempo de sua criação.
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Rui apresenta técnicas utilizadas na ilustração Foto de Mariana Ribeiro |
Além disso, é fundamental se aventurar nas experiências do outro. Ter sua própria bagagem cultural, a partir de muita leitura e muito estudo: “Você chegar para fazer um trabalho como um desses aqui, sem estudar antes, é amadorismo. Se for assim, será feito um trabalho igual ao outro”, concluiu Rui.
Outro ponto enfatizado pelo artista é a valorização da realidade. Para isso, ele diferencia a realidade do realista. Mesmo que seja um conto de fadas, o ilustrador deve representar a história de forma que as pessoas consigam acreditar naquilo que veem.
– A árvore, por exemplo, é um ser divino. A pessoa que começa a inventar árvores quer imitar Deus. Você deve fazer um desenho que seja crível. Nada é mais falso do que quando a pessoa faz uma fantasia pela fantasia. A fantasia só é fantasia se ela se origina do real. Ou seja, só se faz o imaginoso se passar pelo real.
Rui definiu o ilustrador como um diretor de cena e as personagens como os atores, que devem ser bons personagens. Essa comparação destaca a importância de detalhes do trabalho, pois deve representar o momento: “Você começa a fazer as nuances, as sombras, sabendo onde está, de onde vem e para onde vai a luz. Deve saber também o que está dizendo o personagem, suas mãos e seu olhar”, ressaltou.
Por fim, como entusiasta de seu próprio trabalho, ele incentivou os visitantes a terem fidelidade consigo mesmos e se aventurarem em projetos pessoais. E, ao mesmo tempo, reforçou a importância da leitura, da tecnologia e do passado. A tecnologia, por trazer novas experimentações, e o passado por trazer vivências para sua própria experiência.
A consagração do curso de Belas Artes da UFRRJ
O curso de Belas Artes da UFRRJ nasceu em 2009 a partir de uma necessidade artística na região. No início deste ano, o corpo docente e os alunos tiveram alguns motivos para muito orgulho. A exposição Rui de Oliveira: Mostra de Ilustração e Livros veio para fechar a primeira fase do curso com chave de ouro.
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Marisa Vales em foto de Mariana Ribeiro |
Esta primeira fase, como caracterizou a professora Marisa Vales, incluiu a exposição Cotidiano Imaginado, no Forte de Copacabana, onde foram apresentados trabalhos dos próprios alunos. Os itens expostos foram fruto de uma dedicação extraclasse dos alunos e professores, que se empenham em levar o nome do curso e da Universidade para além das fronteiras regionais. Em quinze dias, foram quase trinta mil visitantes.
– Nós estamos agora fechando o primeiro ciclo. No final desse período, teremos a primeira turma formada. Agora, o curso está muito mais estruturado, então, o trabalho começa a amadurecer e mostrar seus frutos.
Sobre a presença do artista plástico Rui de Oliveira para palestra e exposição, Marisa mostrou uma satisfação muito grande em trazê-lo para participar da história do curso de Belas Artes. Ela destacou o fato dele ter cedido por três meses as telas originais.
– Esta é a segunda vez que o Rui está aqui na Universidade. Mas agora nós conseguimos trazê-lo não apenas para uma palestra como também seu trabalhos. Ele gentilmente trouxe os originais para apresentarmos aqui, então, foi como um presente para o curso.
Para o estudante da primeira turma de Belas Artes, Rogério Simonetti, a exposição é muito importante, já que o artista possui trabalhos excelentes e bastante inspiradores.
– O trabalho dele inspira muita gente, principalmente nós que pesquisamos ilustrações em livros infantis. O desenho também possui um papel literal. O livro Pelos Jardins de Boboli é um exemplo do talento didático deste artista, pois apresenta reflexões muito claras a respeito da arte de ilustrar.
A palestra
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Foto de Flávio Jr. |
No dia anterior, aconteceu uma palestra com o ilustrador sobre o campo da ilustração. A chuva parecia mais um elemento poético na trajetória do artista renomado e formado internacionalmente. Alexandre Guedes, um dos organizadores do evento, também professor do curso de Belas Artes, definiu o palestrante em uma expressão: “estratosférico”.
Voltado para os amantes das artes, que lotavam o auditório, Rui de Oliveira sintetizou sua opinião ao retratar o artista como um escritor diferenciado.
– É aquele que cria afeto e recordação nas pessoas, por meio de histórias contadas por textos imagéticos. É um pintor das palavras.
Em sua apresentação, abordou as questões referentes à interpretação pessoal de cada um que analisa a sua obra. Para o artista, isso marca o caráter verdadeiro de uma arte, pois as dúvidas é que trazem a verdadeira afirmação de sentido.
– Cada pessoa vê o que deseja ver. Logo, rompe com a idéia autoritária da ilustração. Na abstração é que a ilustração atrai o olhar e leva à tentativa de descoberta de significados.
Após a apresentação, foi inaugurada a exposição dos trabalhos do artista, que fica aberta ao público até o dia 5 de abril.