Congresso da ASSEL-Rio é realizado na UFRRJ
por Erika Zordan, Jessika Peixoto, Kilber Moreira e Talyta Magano
O XVI Congresso da Assel, realizado semana passada na UFRRJ, teve mesas redondas e apresentações nas instalações do ICHS e do P1. Com o tema “Linguagens e Contemporaneidade”, a abertura oficial do evento foi no Salão Azul, em conferência realizada com a presença dos professores João Cezar Castro de Rocha (UERJ) e Roberto Bozzetti (UFRRJ).
Ainda no dia da abertura, a mesa 2 teve como temática a influência da linguagem no contexto popular. Com apresentações de Aline de Almeida Moura (PUC-Rio) e Lucas de Freitas (PUC-Rio), o destaque do encontro foi Tomás Duque Estrada Rosati (PUC-Rio), com a exposição denominada Língua e distinção social: o Império contra-ataca. Em sua dissertação, Tomás afirmou que sua base de pesquisa foi o levantamento da rejeição por parte da mídia contra o livro aprovado pelo MEC e defendeu o nome “o império contra-ataca”, afirmando que a cultura como concepção reage contra iniciativas que buscam idealizar a língua de um modo diferente.
– Parafraseando Merval Pereira, no artigo “ Visão Perversa”, um jornalista que a todo momento se mostrou contrário a esta aplicação determinada pelo MEC, é possível e coerente afirmar que, “se fosse um romance, não haveria problema algum em reproduzir a maneira de falar de uma região, ou os erros de português de um personagem. Mas em um livro didático é inadmissível aceitar como certo o erro de português”.
A infração linguística, segundo Tomás, é aceitável na dissertação de um romance ou na interpretação de um personagem, pois em um contexto popular o erro é apropriado durante a execução de sua licença poética.
Na mesa 4, foi discutido o tema Discurso e Memória, no Salão Verde (IE/ICHS). Participaram as professoras Alessandra Affonso (UFF) e Maria das Graças Salgado (UFRRJ), com as linhas de pesquisa sobre, respectivamente, As Unidades de Polícia Pacificadora no Discurso Midiático e Metáforas da emoção no discurso autobiográfico em inglês e português: Antonio Carlos Villaça e Jerome D. Salinger.
A professora Alessandra dissertou sobre a revista Veja, analisando o discurso do veículo e os impactos causados nos receptores. O foco foi direcionado no modo como a mídia trata o tema das UPP’s (Unidades de Polícia Pacificadora), pois diz respeito a uma política pública que interfere no cotidiano das pessoas.
– A mídia não traz as condições sociais e locais. Apenas apresenta a guerra – afirmou Alessandra.
A palestra também abordou a forma como a produção de sentidos ocorre. Em relação ao processo metafórico do discurso, a professora Maria das Graças deixou claro que o mundo vive e se molda através de metáforas: “A linguística cognitiva diz que a metáfora está dentro. Ou seja, o discurso é metafórico”.
Além disso, a palestrante evidenciou que ideologias são momentos históricos e tais discursos são feitos a partir de saberes dominantes. Ao relacionar sua pesquisa com a da outra professora, conclui sua idéia:
– A linguagem que usamos é totalmente metafórica. O uso da palavra “combate” evoca a ideia de guerra.
No dia 9, uma das mesas redondas teve como tema a autoria e a escrita e contou com as presenças de Vanessa Massoni da Rocha (UERJ/UFF), especialista na análise de correspondências, e de Andrea Rodrigues Naylor (UNESA).
Em cerca de duas horas de debate, Vanessa discorreu sobre as “Vicissitudes da escrita epistolar no cárcere”, analisando principalmente a obra póstuma de Oscar Wilde, “De profundis” – que apresenta a epístola escrita por Wilde na prisão de Reading, onde cumpria pena por comportamento indecente após caso com seu amante Alfred Douglas, o destinatário das cartas, ser descoberto. Vanessa levantou a questão sobre as citadas cartas onde, devido à fiscalização da prisão, o autor era obrigado a usar das mais variadas figuras de linguagem e escrever de forma subjetiva, sem saber se seria realmente compreendido: “seriam estas cartas literatura ou não?”, questionou Vanessa.
A segunda palestrante, Andréa Rodrigues Naylor, pôs em pauta o tema “Movimentos de sentidos nos textos sobre a cidade do Rio de Janeiro: os usos das palavras ‘pacificação’, ‘pacificadora’ e ‘pacificada’ “. Andréa apresentou uma síntese sobre o que vem a ser a análise do discurso, sendo este o método utilizado para realizar sua pesquisa sobre a diferenciação de produção de sentido. Um exemplo mencionado por ela foi quando um veículo publica o termo “comunidade” ou “favela”. Segundo sua linha de trabalho, ao se referir a um local como “comunidade”, o veículo busca agregar a ideia de ocupação pelo estado, de pacificação, da atuação da polícia no local. Em contrapartida, ao remeter à “favela”, a ideia evocada é a de local ainda não pacificado, onde a atuação predominante não é a dos policiais, mas sim a dos traficantes. A tarde terminou com espaço para perguntas aos palestrantes.
No final da tarde do dia 10, após evento com lançamento de livros e exibição de pôsteres incluindo relatos de experiências profissionais e de grupos de pesquisa, houve a conferência de encerramento, no Salão Azul do P1, contando novamente com a presença dos professores João Cezar de Castro Rocha (UERJ) e Roberto Bozzeti (UFRRJ).
A realização das palestras da Assel no campus da UFRRJ foi avaliada por alunos e professores de Letras e demais cursos da Universidade como positiva.