Salão Azul abre as portas para a cibercultura

por Kilber Moreira

Na última sexta-feira, 10, o Salão Azul do P1 recebeu o publicitário Sandro Torres, professor e pesquisador de Comunicação e Novas Tecnologias, mestre em Comunicação Social e especialista em docência superior, para a palestra Web Semântica na era 3.0: no compasso da robótica e inteligência artificial. No evento, Sandro abordou as características de cada fase da internet até a atual, e exibiu projeções sobre como e quanto a web ainda se expandirá.

– O surgimento de uma técnica não faz as antigas desaparecem, as resignificam sem as excluir. Isso ocorre com a internet. A web 3.0 não substitui por completo a 2.0, do mesmo modo que esta não excluiu a 1.0 – afirmou, mostrando o dinamismo das características da web.

Durante a conferência, Sandro Torres citou nomes renomados no tema, como André Lemos, Norbert Wiener e William Gibson. Deste último, mencionou o livro Neuromancer, com um mundo dividido entre o físico e o abstrato idealizado por Gibson. Da obra surgiu o termo ciberespaço, aclamado pela universidade na época.

– De forma simplificada, máquina, corpo e mente são variáveis da mesma grandeza, onde os funcionamentos se equivalem. A cibercultura nada mais é do que a cultura contemporânea marcada pelas Novas Tecnologias de Informação e Conhecimento (NTIC’s). Nossas tradições, costumes e valores não foram transformados por causa e pela tecnologia, mas junto dela. Ambas caminham paralelamente.

Sandro conduziu sua apresentação se norteando por uma dinâmica mais inclusiva, buscando falar de temas do conhecimento do público, que lotou o Salão Azul. Para tanto, fez questão de informar aos presentes que não citaria o início histórico da internet, composto pela intranet e da fase militar da Arpanet. Segundo ele, a internet comercial e doméstica que conhecemos atualmente não possuía um planejamento tão ambicioso, tendo sido surpreendente o seu boom na década de 90.

Sandro Torres
 (foto de Caroline Ribeiro)
– A web 1.0 apenas foi batizada deste modo após o surgimento da 2.0. O primeiro navegador foi o MOSAIC, que era muito apático e pouco dinâmico. Não era interessante, pois fora o hiperlink, que constrói o hipertexto, o sistema não era convidativo pela conexão muito lenta da época. A qualidade e velocidade dos navegadores demoram muito a se tornarem práticas. Tal conceito só ocorreu com a chegada do Netscape, e com seus sucessores Explorer, Firefox e atualmente o Chrome.

Antes da chegada da web 2.0 já existia o conceito de interação: um local da web guia a outro ciberespaço em um clique. Segundo Sandro, a bidirecionalidade já era bastante latente, o que direcionou a produção de conteúdo mais dinâmico e interativo com o usuário, aumentando a expectativa de cooperação.

– Timidamente, começaram a surgir na rede as imagens, vídeos e podcast, o que aumentou o interesse dos usuários pelo acesso à internet. A produção e distribuição de conteúdo cresceram exponencialmente. Fotologs, o aumento da blogosfera e atualmente as redes sociais ocupam a dinâmica da web. Hoje, qualquer um pode acessar a rede e ampliar o conteúdo da mesma, se tornando emissor ao mesmo tempo em que é receptor.

A interação com a internet depende da conexão à web, e a possibilidade de passar mais tempo online é ampliada com o acesso via celular. Sandro, porém, reiterou que este conceito ainda não está totalmente empregado na sociedade brasileira, seja por aspectos tecnológicos ou por questões culturais. Como exemplo, afirmou que na Suécia cerca de 98% da população se conecta frequentemente pelo celular, operando com 4G. Este sistema, segundo ele, quando possui problemas de operacionalidade, ainda funciona de modo 10 vezes mais rápido que o 3G disponível no Brasil.

A partir da primeira década do século XXI,a tecnologia passa a estar em todos os lugares, influindo e atravessando a vida de grande maioria das pessoas, aumentando a interação entre ser humano e tecnologia. A Inteligência Artificial (IA) se tornou parte do cotidiano da internet. Com a proliferação das redes sociais e a blogosfera em plena atividade, todos passam a ter um lugar na internet, em vários locais diferentes. O ciberespaço cresceu e cresce em proporção geométrica, se duplicando, triplicando.

foto de Caroline Ribeiro
– Hoje, ninguém usa a barra de endereços. A página inicial da maioria dos usuários é o Google, que é hegemônico entre os sites de buscas. Atualmente, 99% do Google é composto de IA. O sistema rastreia conteúdo em uma velocidade, quantidade e filtragem inábeis à mente humana. Os knowbots ( sites de busca) trabalham com rastreamento automático, categorizando os resultados por ordem de relevância. O IA do Google rastreia apenas 17% da internet, já que 90% do conteúdo da web é referente a sexo. Atendendo a uma demanda particular, o Brasil ainda está muito aquém do que é possível com a TV Digital, que não consiste apenas em melhor qualidade de imagem, mas interação maximizada. O canal BBC, da Inglaterra, por exemplo, obtém mais renda com o poker interativo que oferece aos seus espectadores do que com a publicidade exposta no canal.

A web 3.0 é marcada pelo avanço na área de agentes inteligentes. Um dos exemplos citados pelo palestrante é o sistema utilizado pelo servidor de e-mail “primo do Google”, segundo Sandro, o Gmail. De acordo com palavras citadas no corpo do e-mail, é possível visualizar publicidades referentes ao tema ao longo da página. Ao digitar algo sobre celular, por exemplo, surgem propagandas sobre lojas e operadoras telefônicas. Isso acontece devido ao sistema de IA do browser, que rastreia palavras chaves anteriormente compradas por empresas, que têm sua marca divulgada quando o IA detecta as palavras certas.

Essa nova fase da internet é marcada pela interação entre usuário e máquina. Um dos vídeos exibidos na palestra demonstra que futuramente o IA estará presente de forma mais perceptível. Geladeiras avisarão quando determinado item estiver em falta, máquinas de lavar irão alertar quando uma roupa errada estiver em seu interior, e a lista de compras no carrinho do supermercado será trocada por um aplicativo, que baixa a relação dos itens em falta da sua casa e direciona o comprador para cada seção.


Um dos fatores que chamam a atenção na atual web são os aplicativos de GPS disponíveis em smarthphones, que permitem descobrir locais de serviços mais próximos, filiais de certas empresas e telefones úteis, além da kinect, sensor de voz e movimento que descarta o uso de joystics em videogames e aumenta a interatividade em computadores.

 

– Uma das ferramentas idealizadas para o futuro é o do chip contendo informações sobre o usuário. Hoje em dia, já existem pessoas com chips subcutâneos que são utilizados para entrar em boates, mas posteriormente este mesmo formato conterá informações biomédicas, localização GPS e o currículo pessoal, que poderá ser acessado por bluetooth e ligará automaticamente para um ambulância em caso de enfarto, por exemplo.

Futuramente, o sistema de avatar 3.0 (simulador e versão digital do ser humano) estará aperfeiçoado através de sistemas inteligentes de interface. A inteligência artificial tem constantemente sido estudada e dominada por instituições acadêmicas e empresas especializadas. Estas últimas saem na frente das universidades, pois oferecem melhores condições financeiras e de emprego para os pesquisadores.

– Realizando reflexões sobre a interação homem-máquina, citando André Lemos, não temos que ser tópicos ou destópicoss da tecnologia, vendo se ela é boa ou ruim, e se o seu uso poderá influenciar diversas situações. As pessoas têm mania de humanizar objetos, sendo esta tendência de agentes inteligentes provenientes da mente humana. O importante é que o teor de simulação destes agentes não seja análogo ao ser humano, mas sim interativo com ele.

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