“Grandes coberturas” é o tema que abre a IV Comunicar!
por Bruna Somma e Letícia Dias
Nesta segunda, dia 18, teve início a IV Comunicar!. A Semana Acadêmica de Jornalismo (organizada, há três anos, pelos próprios estudantes do curso) traz, em 2015, palestras que abordam desde os 50 anos da Rede Globo até os rumos da imprensa sindical e do jornalismo esportivo. Conta, ainda, com mostra de fotografias e apresentação de trabalhos acadêmicos; além de oficinas de dicção e expressão corporal, stencile design gráfico, oferecidas ao longo da semana para toda a comunidade universitária.
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Chico Otávio, Fafate Costa e Cristina Rego Monteiro Foto: Letícia Dias |
“Grandes Coberturas” foi o tema do primeiro encontro, que começou por volta das 18h40m. Victor Ohana, do sétimo período, e Clívia Mesquita, do quinto, se encarregaram da apresentação do projeto e dos agradecimentos iniciais. O assunto do dia foi introduzido com a exibição de um documentário produzido por discentes que entrevistaram Juan Arias, correspondente do jornal El País. O vídeo relata a noção de Juan sobre grandes coberturas e como ele pensa seu papel como jornalista.
O debate da noite foi mediado pela professora de Telejornalismo da UFRRJ Fafate Costa, que tem ampla experiência como repórter e editora especial de telejornais. A mesa também contou com a participação da professora Cristina Rego Monteiro (repórter por 27 anos, com trabalhos na Band e CNT, atualmente vice-diretora da Escola de Comunicação da UFRJ) e do jornalista de O Globo e também professor da PUC Chico Otávio, várias vezes vencedor do prêmio ESSO. A participação do jornalista Sylvestre Serrano também estava prevista, no entanto, por compromissos profissionais, ele não pôde comparecer.
De maneira descontraída, os palestrantes procuraram conversar sobre suas vivências e relatar experiências relevantes em suas carreiras. Cristina, em sua fala inicial, afirmou que os jornalistas se lembram das coberturas de grandes eventos de forma muito parcial, pelo viés emocional. Ressaltou que a emoção que se sente nestas coberturas é propulsora em um aspecto, mas delicada em muitos outros. Além disso, relembrou o caso das Diretas Já e o descreveu como um “voo cego”, em que não se sabe onde está o centro das coisas. Todavia, não existem técnicas específicas para esse tipo de reportagem.
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Cristina Rego Monteiro em foto de Thiago Silva |
– Não existe manual para jornalista. Ele é um super-homem, tem que ter cultura geral, gostar de gente, “pensar fora da caixinha”. Tem que saber onde procurar o que não sabe. Quando o jornalista acha que é especialista em alguma coisa, está na hora dele parar para pensar. Então, pouco se pode ensinar a respeito do que seja uma metodologia. O que a gente pode fazer é contar como foram algumas coberturas de grandes eventos – destacou Cristina.
Chico, por sua vez, comentou que é repórter de O Globo desde 1997, e que tem inúmeras coberturas de grande porte em seu currículo. Ressaltou, contudo, três que tiveram muita repercussão atualmente: as eleições de 2014, a Operação Lava-Jato e o caso Swissleaks, ligado à investigação da base de dados do HSBC. Com sua carreira marcada pelo jornalismo investigativo e por furos de reportagem, afirmou que uma matéria deste gênero demanda um esforço de apuração sólida, pois não se deve temer futuras retaliações ao realizar a publicação. Relatou, por exemplo, sua experiência pessoal ao tentar resguardar o passado dos torturadores da época da ditadura militar brasileira.
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Foto de Letícia Dias |
Ambos os convidados fizeram questão de obter maior participação do público em relação aos temas comentados. Assuntos como jornalismo ideológico (baseado em declarações) e a ascensão da internet (que resultou na baixa apuração nas redações e na falta de vivência na rua), além da espetacularização, que acarreta a perda de qualidade do conteúdo veiculado, foram também discutidos.
O momento final foi reservado para perguntas e respostas. Discentes levantaram outras questões, como a obrigatoriedade do diploma no jornalismo; o futuro da profissão; ética e responsabilidade; as diferenças entre o formato das coberturas do impresso para a TV; a maior abrangência do sensacionalismo e técnicas de apuração. Em meio a esses assuntos, uma discussão que repercutiu bastante foi sobre a linha tênue entre o emocional e o profissional na cobertura de um acidente ou desastre natural. Cristina disse que não se deve soterrar ou ignorar o que está sentindo, e que separar o emocional e manter uma postura fria não é tarefa fácil. Sobre isso, Chico também expôs como se sente, acrescentando, ainda, a dificuldade que alguns profissionais têm de decidir o rumo das reportagens:
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Chico Otávio em foto de Thiago Silva |
– Busco me blindar, mas tem situações que você não aguenta. No entanto, a emoção é necessária na dose certa. Você é refém do que escreve, porque a pressão e a resposta serão imediatas, mas enquadramento editorial existe em qualquer jornal.