Abandono da antiga Rio-São Paulo


por Arthur Antunes e Hygor Mendes
Buracos, pista mal sinalizada, asfalto em péssimas condições, acostamento inexistente, 43 quebra-molas são algumas características da BR-465 (Antiga Rio-São Paulo), que atualmente liga a Rodovia Presidente Dutra (km 208), na altura do município de Seropédica, ao bairro de Campo Grande, na cidade do Rio de Janeiro. Com aproximadamente 31 km de extensão, a via foi inaugurada em 1928, pelo presidente Washington Luís e foi a primeira, única e principal ligação entre os estados do Rio e São Paulo até o fim dos anos 40.


Traçado antigo X Traçado novo

Com o crescimento da economia brasileira, Rio de Janeiro e São Paulo firmaram-se como grandes metrópoles. A necessidade de uma nova rodovia para atender à demanda de transportes se tornou inquestionável. Em 1951, a Via Dutra foi inaugurada, e com novo traçado, que passava por Queimados, Nova Iguaçu, Belford Roxo e São João de Meriti, municípios da Baixada Fluminense. O trecho anterior ficou como a segunda opção para o acesso ao Rio de Janeiro. A estrada teve, então, o nome Rio-São Paulo “aposentado” e renomeada BR-465. Com a nova denominação, agregou-se a ela o trecho do Viaduto Oscar Brito, em Campo Grande, cruzando a Avenida Brasil, principal via expressa da cidade.
Entretanto, a falta de manutenção e investimentos criou um panorama quase que insustentável para os motoristas e passageiros que transitam diariamente pela Rodovia.  
– A estrada é muito mal conservada e existe pouca ou nenhuma manutenção eficaz. O tráfego de veículos pesados e a má iluminação trazem muitos riscos não só aos motoristas e passageiros que transitam pela via, mas a toda a população que reside em suas margens – afirma Felipe Ferreira, morador de Santíssimo, aluno do 8º período do curso de História da Rural, que faz o trajeto, de ônibus, diariamente.
O trajeto é cansativo e incomodo não somente para os passageiros dos ônibus, mas também para os motoristas que se “aventuram” na Estrada. Segundo o estudante do 2° período do curso de Jornalismo da Universidade, Charles Ângelo, que percorre o trajeto de carro, os quebra-molas, a falta de sinalização e de iluminação pública nas margens são alguns dos problemas mais comuns em toda a extensão da rodovia. 
– É um paradoxo. O quebra-molas que foram concebidos para diminuir a velocidade dos veículos e, consequentemente, evitar acidentes, tornaram-se, por causa da má sinalização, um risco à integridade dos veículos – acrescenta Charles, que teve seu veículo avariado pela precariedade da pista. 
Outro motivo de grande reclamação dos usuários da rodovia são os recorrentes engarrafamentos provocados pelo estreitamento da pista no antigo Km 32, próximo à Companhia de Bebidas das Américas (AMBEV).  

Engarrafamento no Km 32

– Sem dúvida, o pior trecho fica entre a entrada da AMBEV e o trevo entre a BR e a Estrada de Madureira. Na maioria das vezes que passo por ali, independente do horário, sempre há retenção no transito – declara Felipe.
A precariedade na sinalização não afeta somente os motoristas. Em alguns locais, como à frente do ponto de ônibus do Instituto de Ciências Humanas  e Sociais (ICHS), a faixa de pedestres está praticamente imperceptível. Em outros trechos, as placas de travessia de pedestres e de velocidade máxima permitida não estão em bom estado de conservação. A manutenção tem se mostrado pouco eficaz no que diz respeito às condições de transitabilidade da via. Essa situação preocupa os profissionais que utilizam a pista cotidianamente como meio de trabalho.  
– Há seis meses estou na Empresa, e vejo que a situação está muito ruim. O governo poderia melhorar tudo. No km 32, perdemos, em média, no horário do rush, 50 minutos – declara Thiago, cobrador da empresa Real Rio (linha 144B – Castelo/Seropédica).
Acostamento com desnível e sem sinalização

Em uma observação atenta às condições de dirigibilidade da rodovia fica claro que a má conservação impossibilita os investimentos de grandes empresas, principalmente no município de Seropédica e em comunidades que se desenvolvem à margem da via, provocando o enfraquecimento da economia local. Porém, em um ponto as opiniões são convergentes: para todos os entrevistados, o governo tem a responsabilidade de gerir com mais responsabilidade a Rodovia. 

– Vivemos em um país onde privatizar um serviço que cabe ao governo executar é normal. Assim, para proporcionar mais segurança e conforto, eu entendo que a melhor saída, infelizmente, seja a privatização” – completa Charles.
Já Gabriel, estudante do 2º período do curso de Jornalismo da UFRRJ, entende que o governo tem culpa, mas para ele a solução não está na privatização. 
– Sem dúvida, o estado tem a obrigação de zelar pelas rodovias e estradas, e administrá-las – acrescenta.
A equipe do Blog tentou entrar em contato com o órgão responsável pela manutenção e administração das rodovias federais, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), para apurar sobre a previsão de investimentos e serviços de reparos na rodovia, porém, a direção do DNIT não se propôs a conceder entrevista.

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