Alemanha e o 6X1 no G7

No último dia 27, os líderes dos países mais industrializados, França, Alemanha, Itália, Canadá, Japão, Reino Unido e EUA se reuniram na cidade italiana de Taormina, em mais uma reunião anual do G7. As notícias não foram muito positivas por conta de alguns assuntos mal resolvidos entre os líderes, como o Acordo Climático de Paris que deixou exposto uma relação estremecida entre Alemanha e os Estado Unidos.

O Terrorismo global foi assunto, logo após o recente atentado em Manchester, que matou 22 pessoas, entre elas crianças, na saída de um Show de música pop. Os líderes buscaram maior cooperação para mitigar esses eventos, entretanto quando a temática se voltava para o combate do ISIS os chefes de estado e governo afirmaram que qualquer resolução do conflito necessitaria estabelecer uma cooperação com a Rússia, a qual os membros do G7 se mostraram dispostos a encontrar uma solução política, mas sem muitos detalhes, -talvez seja o caso de esperar o encontro programado de Vladimir Putin à França. A migração como efeito direto da contenda no território sírio foi abordada.

A guerra que se iniciou em 2011 ainda perdura e os reflexos disso são um fluxo colossal e continuo de migrações para o território europeu, ainda permanece com uma sombra, o que tange a resoluções satisfatórias e humanitárias para o tema. Segundo a vontade de Trump, o tratamento aos refugiados ainda ficará a cargo de cada Nação, cabendo decisões sobre a quantidade e quando poderão ser acolhidos, além de deixar em aberto, a possibilidade dos países fecharem suas fronteiras – claramente uma antítese infeliz. Decisão essa, a qual, não agradou muito aos italianos, os anfitriões do evento, pois são os grandes receptores de imigrantes da rota do Mediterrâneo.

Vale ressaltar que a Itália possuía um programa, intitulado de Mare Nostrum em 2013, que visava o resgate de refugiados no mediterrâneo, mas que, foi suspenso por cortes orçamentais, o que transferiu a responsabilidade para um projeto europeu, o TRITON. Entretanto, este conta com 1/3 do orçamento do projeto italiano e é fortemente criticado pela Anistia Internacional. Isso se dá pelo foco a qual os projetos possuem, o primeiro era claramente mais humanitário, tendo em vista a sua concepção que foi espontânea após a tragédia de Lampedusa e o segundo claramente deflagra o objetivo de vigilância da fronteira, como pilar, frustrando, assim, qualquer expectativa da sociedade internacional acerca dos melhores tratos aos refugiados.

(Foto: REUTERS/Philippe Wojazer)

Com isso, o resultado da reunião foi insatisfatório, segundo a própria Angela Merkel, que considerou que o evento terminou em “6×1”, sobre outra temática. A crítica dura foi para a posição estadunidense nos processos de negociação, principalmente o que tange o acordo de Paris sobre as mudanças climáticas, pois todos os países já haviam acordado sobre a questão climática, menos os EUA que se mostram contrários à assinatura do acordo.

A posição dos EUA

Trump afirmou que em até uma semana ele possuiria um posicionamento final acerca do tratado de Paris. Entretanto, o que esperar do presidente estadunidense que escolhe Scott Pruit para assumir a Agência Nacional de Proteção Ambiental, mesmo antes de sua posse como presidente. Pruit baseou sua carreira no embargo a medidas ambientais a favor de empresas poluentes, tendo como histórico uma série de ações e processos contra a própria agência que agora ele comanda -fora os comentários da não interferência humana no aquecimento global, que foi midiaticamente exposto nas eleições de 2016-. Isso faz acreditar no que estará fundado a decisão final do presidente estadunidense.

Ao longo da semana o presidente Trump, por meio da rede social Twitter¹, pontuou que os EUA possuem um grande déficit comercial com a Alemanha, mesmo os alemães pagando menos pelo que deviam a OTAN e que essa situação mudaria. Direcionando a crítica já feita aos países da aliança militar aos alemães, além de alertar sobre um posicionamento já mencionado por Trump sobre reformas orçamentais do organismo internacional.

Com base nas cimeiras da cúpula do G7 e da OTAN, parafraseando Merkel, ela, considera que a Europa não pode confiar totalmente nos aliados e que os europeus deveriam segurar as rédeas do próprio destino. Uma alusão ao posicionamento dos EUA e ao processo de saída do Reino Unido da União Europeia, Merkel claramente se volta para os franceses com esse discurso, haja visto a recente eleição do candidato que Berlim apoiava, Macron. A instabilidade que o bloco está sofrendo com o Brexit, e com as medidas isolacionistas esperadas dos EUA, urge pela  necessidade de uma coesão no bloco europeu para com a instabilidade política, além de pressionar o presidente francês a agir diante dessa situação em apoio a uma política mais alemã no bloco – se isso é mais possível.

O estranhamento da Alemanha com os EUA não é de hoje, até mesmo sobre o governo Obama, os alemães entravam em desacordo no que tange a guerra síria. Entretanto os choques são mais visíveis sob a administração Trump, que no início do ano se recusou o aperto de mãos com a chefe do governo alemão, em uma visita oficial que Merkel havia feito aos Estado Unidos em março.

Essas declarações estão à espreita de mais comentários polêmicos, do lado alemão, o concorrente de Merkel nas próximas eleições, Martin Schulz dispara que o presidente Trump faz chantagem política e um desestabilizador da cooperação internacional pacífica, além de um destruidor de valores ocidentais. Com cunho mais apaziguador, o ministro dos Negócios Estrangeiros comentou que é um período ruim para as relações entre os dois países, mas que a aliança histórica é muito maior que certo descompasso na política.²

As eleições favoráveis na França geraram mais estabilidade a situação que a União Europeia se encontra, mas há muitas questões que podem definir os novos caminhos do bloco, seja pelo Brexit, seja pelo afastamento político estadunidense com o aliado mais forte do bloco, que é a Alemanha.

O objetivo desta resenha seria, assim, expor e trazer para discussão a recente reunião da cúpula do G7, porém não poderia ser deixado de lado os desdobramentos que esta ocasião envolveria.

¹Disponivel em-  https://twitter.com/realDonaldTrump/status/869503804307275776.

² Disponível em -http://www.spiegel.de/wirtschaft/soziales/donald-trump-greift-deutsche-handelspolitik-an-a-1149891.html.

 

Marcello Padilha, graduando em Relações Internacionais pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

  • Generic selectors
    Exact matches only
    Search in title
    Search in content
    Search in posts
    Search in pages