Clínica de Psicologia da UFRRJ enfrenta sobrecarga, mas aposta em atendimento humanizado — por Leticia Sabbatini
A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que vinte e três milhões é o número de brasileiros necessitados de um acompanhamento psicológico regular, contendo, nesse total, cinco milhões que sofrem com graves transtornos. Infelizmente, cerca de 80% dessas pessoas não recebem nenhum tipo de tratamento.
No município de Seropédica, localizado na Mesorregião Metropolitana do Rio de Janeiro, não é diferente. Com aproximadamente 78.186 habitantes, segundo levantamentos feitos pelo IBGE em 2010, o local não possui uma rede de atendimentos psicológicos que corresponda às necessidades da população.
O SPA (Serviço de Psicologia Aplicada) é o único centro de acompanhamento mental gratuito do município e fica localizado no km 44 de Seropédica. Foi criado em 2013 como um projeto de extensão do curso de Psicologia da UFRRJ, objetivando complementar a formação dos alunos por meio do atendimento terapêutico à comunidade local.
No sétimo período do curso, os estudantes precisam escolher por uma modalidade de estágio, e a clínica é uma delas. O serviço conta com 20 estagiários e 6 supervisores-professores, cada um atendendo em média de 2 a 4 pacientes, que sofrem com problemas variados.
Em termos de infraestrutura, o local conta com quatro salas de atendimento, uma para a coordenação, um banheiro e uma cozinha. Um dos espaços é especialmente destinado ao público infantil:
Apesar dos benefícios, a clínica enfrenta um problema recorrente em outros bairros e cidades do entorno: sobrecarga. Antes de ser atendido, o paciente precisa se inscrever, preenchendo uma ficha no próprio local. Só assim, entra na fila de espera, que hoje conta com mais de 100 pessoas.
Letícia Azevedo, aluna do nono período do curso, confirma a triste situação. “A demanda está muito grande, porque é o único meio que as pessoas têm de fazer terapia, só que a gente não tem uma equipe grande o suficiente e nem podemos abraçar o mundo com as mãos, infelizmente”, lamenta a discente.
Então, o que poderia resolver tal problema? Segundo a coordenadora da clínica e professora do curso de Psicologia da UFRRJ, Carla Vicente, a presença contínua de um psicólogo contratado pela universidade ajudaria.
Esse profissional poderia cuidar da parte administrativa, supervisionar os alunos e ainda realizar atendimentos, aumentando o potencial do SPA. A UFRRJ, porém, ainda não contratou um profissional para realização dessas tarefas, mesmo com os pedidos da coordenação.
Com exceção de menores de idade, a inscrição na clínica deve ser voluntária e não compulsória. Entre as pessoas atendidas, a maioria são jovens universitários da Rural, que possuem problemas variados.
O atendimento infantil ocorre, na maioria das vezes, por encaminhamento escolar, como é o caso do estudante Everton Freitas, 13 anos. Aluno do ensino fundamental do CAIC (Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente), o jovem chegou ao SPA pelo baixo rendimento escolar e admite gostar do atendimento. “Ela (a psicóloga) faz perguntas e me dá atividades”, afirmou Everton, que, mesmo há pouco tempo na clínica se sente à vontade no lugar.
Infelizmente, o SPA não recebe o apoio financeiro necessário da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Exemplo disso são as instalações, confortáveis graças às doações feitas pelos alunos do curso.
“É realmente uma luta! Temos que ficar o tempo inteiro no pé deles, fazendo as cobranças e ainda assim, tudo demora muito. É um processo muito lento conseguir qualquer coisa para o SPA, desde um simples pacote de folha ofício até um ventilador ou qualquer outra coisa mais básica.”, desabafa Igor Cavaliere, aluno do décimo período de Psicologia e ex-estagiário da clínica.
É perceptível que o Serviço de Psicologia Aplicada caminha apoiando-se no amor e boa vontade de funcionários, docentes e alunos. Há mais de um ano à frente da clínica, Carla não recebe nenhuma gratificação e se divide constantemente para realizar suas outras tarefas na Universidade. “A gente precisa formar os alunos, então, quando nós montamos o serviço, nosso foco era fazer o curso funcionar.”, contou a docente, que também concorda: é tudo por amor ao curso.
Quase quatro anos depois, a história de carência se repete com um projeto parecido e tão importante quanto: uma sala para a realização de oficinas e atendimentos psicológicos com os alunos do CTUR (Colégio Técnico da Rural). A instituição de ensino técnico em nível médio, vinculada à Universidade Rural, possui 1033 alunos e ao conversar com alguns deles, torna-se evidente que o projeto só tem a acrescentar.
O colégio conta com o Serviço de Orientação Educacional (SOE), que deve manter um contato direto com os estudantes e suas famílias, auxiliando-os e atendendo suas demandas. Para os alunos, porém, o SOE muitas vezes não cumpre o seu papel.
“Os alunos precisam ser ouvidos e o SOE não tem funcionado como deveria. Eles não aceitam as nossas opiniões! Tivemos um caso recentemente de alunos que saíram do colégio porque o SOE junto ao CTUR não resolveram o problema pessoal com esses alunos. Problemas que seriam resolvidos facilmente, só nos ouvindo.”, afirma Matheus de Araújo de 18 anos, aluno do 3º ano de hospedagem. A colega de turma Laís Rocha de 17 anos também desabafa “Acho um privilégio termos uma universidade com o curso de Psicologia. É bom para os alunos do curso treinarem com a gente e pra nós sermos escutados por alguém.”
O serviço de atendimento psicológico no colégio será realizado em grupo de 15 pessoas e se houver necessidade, o estudante poderá ser atendido separadamente. Quanto ao espaço físico, a inauguração ocorreu no final de 2016 e o local começou a funcionar regularmente, estando parado apenas durante o recesso escolar. A previsão é que volte junto às aulas.
Contato para as doações:
• (21) 3787-3983
• (21) 96666-3475
• servicodepsicologia@ufrrj.br