Aula magna do curso de Jornalismo recebe o Professor Jean Wyllys

“Respeito não é concedido, respeito é conquistado”, afirma Jean num discurso que tratou de minorias e direitos humanos.

O salão Azul do Pavilhão Central da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) foi palco da aula magna do curso de Jornalismo na segunda-feira (22). O convidado do curso foi o jornalista, professor, pesquisador e Deputado Federal Jean Wyllys, conhecido como um grande defensor dos direitos humanos.  Alunos de diversos cursos lotaram o salão Azul durante a aula. Jean Wyllys foi apresentado pela mesa composta pela professora do curso de Jornalismo Flora Daemon, o vice coordenador do curso, o professor André Holanda, e Ricardo Berbara reitor da Universidade Rural. O tema da aula foi “O direito de ser e dizer: Jornalismo, direitos humanos e minorias”.

“Eu quero ver e mostrar o nunca visto”, foi essa a frase que o jornalista usou para descrever sua motivação para decidir seguir a profissão aos doze anos de idade. Durante a primeira parte da aula, o pesquisador explicou sobre como a prática jornalística muda e se transforma com o passar dos anos. “Jornalismo é uma prática que vem se transformando e se modificando a partir dos meios em que essa prática é feita”, explicou.

Um dos pontos mais importante da aula foi a explicação sobre como muitas pessoas ainda enxergam os direitos humanos. O professor explicou, que para muitos, os Direitos Humanos não são vistos como direitos de todos. Ao contrário, acreditam que estes direitos devam ser privilégio de , determinado conjunto de pessoas “O senso comum mais imbecilizado costuma tratar os Direitos Humanos como uma pessoa. Não concebe os Direitos Humanos como um conjunto de direitos estáveis a toda pessoa humana”, explicou o pesquisador. Indo mais além na história, o professor explica que a raiz dos Direitos Humanos pode ser encontrada no Cristianismo primitivo expressa no versículo bíblico “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. “A ética cristã primitiva não tem nada a ver com a Teoria da prosperidade de Malafaia”, brincou o professor. E conclui o pensamento dizendo ver que muitas pessoas que hoje ainda professam essas palavras em nome do cristianismo tenham desaprendido a muito tempo essa lição.

 

CRÉDITOS: THAÍS CHAVES

 

Entrando no ponto das minorias, ele explica que os direitos humanos depois da formulação de 1948, passou por uma transformação e nesse primeiro momento de afirmação, os direitos humanos são tratados como um bem, um valor a ser protegido da violência do Estado, porque quem perpetuou a violência desde sempre foi o Estado,  porém com o passar dos tempos foi entendido que o Estado deveria proteger os direitos humanos e então ele passa a ser o fiador desses direitos. Visto que é preciso proteger as pessoas, ressaltou o professor, pessoas que não estão aptas ao consumo, as pessoas que não podem entrar no mercado de trabalho, aquelas pessoas que não podem ser deixadas no caminho, as pessoas com deficiências tanto cognitivas quanto físicas, as minorias vulneráveis historicamente como os negros que moveram a economia com a mão de obra escrava.

“É preciso construir um conjunto de políticas para inserir essa comunidade na cidadania, no espaço mais amplo da cidadania, era preciso compreender a posição das mulheres que historicamente foram alijadas de direitos, não só alijadas de direitos, mas subalternizadas inclusive por meio de uma violência contra seu corpo, tirando a autonomia sobre seu próprio corpo. Era preciso pensar as mulheres, portanto, nessa posição. Pensar na posição de povos originários e de culturas que não eram semelhantes a hegemônica europeia.”, explicou o professor Jean Wyllys.

Explicando a expansão histórica do conceito de direito humanos, ele explica que chamamos de direitos humanos de quarta geração, . Não há hierarquia nos direitos humanos, logos os direitos humanos compreendem os direitos políticos, sociais, econômicos, ambientais, culturais, sexuais e reprodutivos.

Ouça aqui o trecho completo em que o de Deputado comenta direitos humanos e minorias (04:42 min)

Durante um pouco mais de duas horas, Jean Wyllys conseguiu, de forma simples, inteligente e enfática prender a atenção de todos os alunos, professores e funcionários. A aula magna ultrapassou o tema proposto e foi além.  É claro que a atual instabilidade política foi comentada em alguns momentos tanto pelo professor quanto nas perguntas dos alunos.

 

Créditos: ANA CASTRO

 

Enquanto isso nas redes sociais …

 

E quem pensou que Jean não ia falar sobre a polêmica que aconteceu no Facebook por ocasião da sua vinda a Rural, enganou-se. O professor não deixou de tocar no assunto durante a aula Magna de Jornalismo. Com muito bom humor, Jean comentou os ataques nas redes sociais.

 

 

Jean Wyllys respondeu aos ataques na rede, dizendo: “Por isso quando se anuncia na página da Universidade Rural de que o deputado Jean Wyllys vai fazer a aula inaugural aparecem os imbecis homofóbicos a me insultar pela minha orientação sexual. Ora, que perda de tempo. Eu sou viado e gosto de ser viado!” e completou “ Isso para mim não é um problema.”

Com xingamentos e ironias, usuários do Facebook criticaram a vinda do parlamentar à Universidade. Jean Wyllys sofreu ataques de internautas em uma publicação do perfil oficial da Universidade Rural no Facebook. Com xingamentos, ironias e até comentários homofóbicos, diversas pessoas se demonstraram contrárias à aula que o deputado foi convidado a participar.

Foram mais de 300 comentários no post, com dezenas de deboches. Um deles afirmou: “Primeira vez que sinto vergonha de estudar na Rural! Que nojo desse verme”. Outro internauta descarrega: “Jornalista, pesquisador e professor? Só se for de baile de bichas”. Outro também fala: “Vergonha ter um merda desse como convidado para ensinar algo numa Universidade que foi por muito tempo uma das melhores do Brasil”.

Muitos usuários se referiram também negativamente ao cuspe que o parlamentar deu no deputado Jair Bolsonaro, no dia em que o processo de impeachment foi aprovado pela Câmara.

No período que antecedeu a aula alunos e professores se mostraram preocupados com possíveis reações de ódio no dia da aula.  Mas felizmente nenhum imprevisto atrapalhou a palestra, que foi ministrada com sucesso, e Jean Wyllys se mostrou confiante com sua posição. E encerrou o discurso com a seguinte frase, “Citando o clássico de cervantes, Dom quixote, há um dado momento em que ele diz a Sancho Pança, ‘Os cães ladram, Sancho. É sinal de que estamos avançando’, muito obrigado!”

 

Thaís Chaves e Uli Campos Leal

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