Colóquio de Letras e Comunicação lota Paulo Freire

por Douglas Maços

Nas graduações de Comunicação Social, muito se debate sobre a função social do jornalista, seu dever de falar aquilo que os não-legitimados desejam expressar. Porém, com o avanço das tecnologias e das mídias sociais, aqueles – antes apenas ouvintes – se tornaram também produtores de fala.

Com o objetivo de debater o tema, os cursos de Letras e Jornalismo da UFRRJ promoveram, no dia 11 de abril, no auditório Paulo Freire, o colóquio “Comunicação, cidadania e dimensões da linguagem”.
Compuseram a mesa, a vice-coordenadora do curso de Jornalismo da UFRRJ, Rejane Moreira, que mediou o debate; o doutorando da linha temática “Comunicação comunitária e cidadania” da Universidade de Tampere – Finlândia, Leonardo Custódio; a professora de Comunicação Comunitária e Terceiro Setor da UNESA, Ana Lúcia Vaz; e o coordenador do Projeto “PET- Conexões de saberes” de Letras da UFRRJ, Mário Newman.
 

Ana Lúcia Vaz em foto de Letícia Santos

Sob os olhares atentos de um auditório lotado, a professora Ana Lúcia Vaz falou do seu trabalho com o grupo Voz do Circo, reunindo meninos e meninas de rua de Queimados. Nesse projeto, ela produziu uma oficina de jornalismo para as crianças que desejavam expressar seus problemas e os aspectos positivos da sua comunidade. Porém, como destacou Ana, expressar do seu próprio modo, não da forma como as mídias tradicionais costumam fazer.




Graças a sua experiência com o projeto, a professora percebeu o que representa a mídia comunitária e como os jornalistas devem agir em relação a ela. Para Ana Lúcia Vaz, não é direito exclusivo do jornalista falar sobre as pessoas, sem legitimidade de fala. Hoje, todos possuem o “poder” de falar, falam de todas as formas e o jornalista precisa ouvir essas falas. Somente desse modo ele saberá o que os cidadãos realmente querem.

Já o professor Leonardo Custódio abordou o tema a partir de outro enfoque. Primeiro, conceituou “mídia comunitária” e afirmou que esse termo é usado para se referir a fenômenos locais alternativos à mídia comercial. Depois, apresentou seu trabalho e principais questionamentos, como: mídia comunitária só existe nas comunidades carentes do Brasil; existe mídia comunitária na Rússia?


Leonardo Custódio em foto de Letícia Santos


Leonardo lembrou que, em seu trabalho de campo, obteve respostas para suas grandes questões. Para a primeira, ele descobriu a CMFE (Fórum de Mídias Comunitárias da Europa), que atua no sentido de melhorar o acesso à informação no continente europeu; e também a AMARC (Associação Mundial de Rádios Comunitários), que reúne mais de 3 mil rádios comunitárias do mundo inteiro.



Para responder ao segundo questionamento, contudo, Leonardo Custódio encontrou mais dificuldade, já que na Rússia o conceito de comunidade é praticamente inexistente e muitos não sabem o seu significado. Com isso, ele percebeu que lá existem ONG’s, responsáveis por suas publicações, sem a obrigatoriedade de serem comunitárias.

Em São Petesburgo, Leonardo Custódio encontrou três organizações. A AIDS, Statistics and Health (Aids, Estatística e Saúde); African Union (Associação Africana); e Ingrian Union (Associação de Filandeses da Íngria). A única organização que ele considerou mídia comunitária foi a Ingrian Union, pois os que lá escrevem são membros da população, na verdade, voluntários. A  Associação promove cursos de capacitação em jornalismo para jovens interessados.

Concluindo seu estudo, Leonardo percebeu que rádio comunitária não é um aspecto exclusivo das favelas do Brasil. Além disso, em qualquer lugar do mundo, a mídia comunitária deseja a transformação social, o exercício da cidadania e a prática do direito à comunicação.

Já o professor Mario Newman trouxe sua experiência com o projeto “PET – Conexões de saberes” para mostrar ao público como o questionamento ao próprio pensamento pode gerar modificações sociais, pois ele provoca uma mudança nos costumes inconscientes. Ou seja, as mídias tradicionais, que já estão implícitas no pensamento das pessoas, passam a perder a força com o surgimento, cada vez maior, de pessoas querendo falar e serem ouvidas.

No final, houve grande interação da mesa debatedora com o público e, mais importante, a percepção de que a comunicação do passado já não existe mais. Atualmente, todos possuem o poder e o direito de falar e se expressar.

       

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