Curso de Economia Doméstica é suspenso

Por Bruna Somma e Uli Campos Leal

Foto de Bruna Somma

Não é de hoje que boatos sobre a suspensão do curso de Economia Doméstica rondam a UFRRJ. A informação foi confirmada, no início do mês, pela coordenadora Patrícia Oliveira que, ao lado das professoras Mônica Del Rio e Débora Pires, explicou ao ICHS em Foco o desenrolar do processo, suas causas e consequências.


O curso em questão é um dos mais antigos e conceituados da Universidade, tendo mais de 50 anos de existência. Já passou por inúmeras mudanças e, atualmente, possui estrutura consolidada, com cinco laboratórios e grade curricular dinâmica e flexível, tendo em vista que o profissional pode atuar em diversas áreas, pois trabalha com diferentes campos do conhecimento, desde química até pedagogia e têxteis. Porém, isso não foi suficiente para mantê-lo.

Diante da crescente evasão (o curso, de modo geral, conta hoje com um total de 55 alunos, menos que uma turma inicial de agronomia), os próprios docentes e o NDE (Núcleo Docente Estruturante) começaram a discutir, em maio de 2012, a proposta de suspensão. Em 2014, após ser encaminhada ao departamento; ao Consuni; ao Cepea (que engloba toda área de ciências sociais aplicadas); à Câmara de Graduação; ao CEPE (Conselho de Ensino de Pesquisa e Extensão) e ao Conselho Universitário, foi concretizada pela Reitoria.

Evasão

– A evasão no curso de Economia Doméstica é um fato no decorrer de sua existência – afirma Patrícia.

A coordenação acompanhou durante esses anos, por meio de dados estatísticos, o crescente índice de evasão após os primeiros semestres. O perfil do estudante, que vinha do público socioeconômico mais carente e que trazia certa identificação social ao curso, mudou completamente. Tal quadro, no entanto, foi agravado pela implementação do Sisu (Sistema de Seleção Unificada) e da Reopção em 2010. Este programa permite que a mudança seja generalizada, para qualquer curso da Universidade, além disso, o aluno não precisa fazer uma prova de aptidão, apenas ter um bom CR, poucas faltas e nenhum abandono de matéria. Antes, estes só podiam migrar para áreas afins, como Educação Física, Pedagogia, etc.

No Sisu 2014.1, por exemplo, o curso de Economia Doméstica teve a segunda menor nota de corte (643,27), atrás apenas de Ciências Agrícolas (640,88). Muitos alunos, dessa forma, optaram pelo curso pela baixa nota para depois pedir transferência para outras áreas dentro da própria Universidade. O que propulsiona essa elevada taxa de evasão. As turmas que inicialmente tinham 20 alunos passavam a ter entre 11 e 13 no segundo semestre.

– O aluno já vem com o intuito de se transferir. Tentamos, a todo custo, mudar essa situação. Trazíamos profissionais do ramo, oferecíamos visitas aos locais onde este profissional atua, enfim, diferentes iniciativas para mostrar o que é o curso, e tentar prender a atenção deste aluno, porém essas ações não foram suficientes – comenta a coordenadora.

Diante dessa perspectiva, da falta de alunos verdadeiramente interessados no curso, que impactavam até mesmo a vida dos docentes, que tinham dificuldades para conseguir bolsistas de iniciação científica e monitores, uma decisão precisava ser tomada.

– É preciso deixar claro que nós não somos contra a reopção, os critérios é que precisam ser reavaliados. Reoptar é um direito, mas o panorama que encontramos atualmente é muito desconfortante. Dos 20 alunos que entravam, apenas dois, no máximo três, permaneciam nas turmas, em média – relata a chefe do Departamento de Economia Doméstica e Hotelaria (DEDH), Mônica Del Rio.

Para os alunos, também não foi fácil. Apesar de serem poucos, havia aqueles que realmente pretendiam seguir até o final da sua graduação em Economia Doméstica.  A coordenadora ressalta que eles já estavam cientes da situação delicada do curso.

Futuro

Independente da não abertura de turma no ano de 2015, o aluno que está matriculado terá a garantia de oferta de todas as disciplinas até que conclua sua grade. A coordenação vai acompanhar de perto esse processo a que considera “inativação gradual das disciplinas e das turmas”. Matérias obrigatórias e certas optativas oferecidas a outros cursos (Pedagogia, Belas Artes e Engenharia de Alimentos), além dos programas de pós-graduação, abertos não só para os estudantes de Economia Doméstica como também para toda comunidade acadêmica, não serão afetados de forma alguma, com sua disponibilidade normal. Há, no entanto, uma racionalidade dessa oferta, para que esta não se estenda por muito tempo. No que diz respeito à suspensão, não se pode quantificar e prever um processo de reabertura do curso, visto que este decorre de um momento e demanda social que viabilize essa volta.

– Suspensão não é fechamento, fim – disse Patrícia.

Entretanto, o DEDH, em parceria com a Universidade e outros departamentos, para aproveitar o corpo docente que ficará ocioso (embora já estivesse de algum modo) e uma mão de obra não ocupada em seu horário integral, propõe a criação de um novo curso, o de Serviço Social. Esta proposta, que não visa à substituição de Economia Doméstica, mas apenas a abertura de um novo curso para a comunidade acadêmica, que já está em andamento e tem possibilidade de se concretizar no segundo semestre deste ano. Desse modo, parte dos professores seria remanejada até o esgotamento das ofertas de disciplinas em Economia Doméstica.

Formada pela própria UFRRJ, conclui de maneira emocionada.
– Em alguns momentos foi movido a choro mesmo. Somos formadas em Economia Doméstica, amamos nossa profissão, não queríamos que o curso fosse suspenso dessa maneira, por esses motivos. Mas, ao mesmo tempo, fica a sensação de dever cumprido, de ter tentado, de ver que fizemos o que podíamos e que buscamos estratégias para tentar reverter essa situação. No entanto, chegou a hora de reconhecer que não dava mais.

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