por Alerrandre Barros e Iago Duque
Antes mesmo da final da Copa do mundo 2010, o futebol entrou em campo no ICHS. No dia 08 de julho, a discussão sobre futebol e cultura no Brasil foi motivo suficiente para lotar o Auditório Paulo Freire, no Instituto de Ciências Humanas e Sociais. O evento “As Ciências Sociais e o Esporte” contou com a participação de pesquisadores da UFRRJ, da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
“Futebol e Cultura no Brasil” foi o tema da mesa que abriu o evento com a participação dos pesquisadores Leda Costa, do Núcleo de Pesquisas sobre Esporte e Sociedade da UFF (NEPESS/UFF) e Bernardo Buarque de Hollanda, da FGV. Quem mediou a discussão foi o professor Édison Gastaldo, do curso de Comunicação Social, da Rural.
O historiador Bernardo Buarque de Hollanda falou sobre a origem e o futuro das torcidas organizadas do Rio de Janeiro, além de muitas curiosidades sobre o tema. O assunto fez parte da tese de doutorado do palestrante e acabou virando o livro “O clube como vontade e representação: O jornalismo esportivo e a formação das torcidas organizadas de futebol do Rio de Janeiro”, publicado pela editora 7 letras.
Quem compareceu ao evento pôde saber, por exemplo, que a primeira torcida organizada do Brasil foi a Charanga do Flamengo, criada em 1942 pelo baiano Jaime de Carvalho, que também foi o chefe da torcida da Seleção Brasileira. Buarque de Hollanda contou ainda que Jaime foi o responsável por inserir nas torcidas os instrumentos musicais que carnavalizaram as arquibancadas.
As primeiras torcidas foram criadas com o intuito de organizar os torcedores. Havia na época um certo medo das conseqüências da aglomeração de pessoas, inclusive em termos políticos. No começo, inclusive, era proibido nos estádios qualquer tipo de manifestação como vaias ou xingamentos. O pesquisador também creditou ao Jornalismo esportivo a popularização do esporte no Brasil. Buarque de Hollanda lembrou que o jornalista Mário Filho foi um grande incentivador do futebol ao promover concursos que premiavam as torcidas mais animadas. O nome oficial do estádio do Maracanã, é ‘Estádio Mário Filho’ em homenagem ao jornalista.
Também foram comentados alguns momentos menos nobres do esporte. Segundo o historiador, em 1983 foi criada a primeira torcida com o declarado intento de usar violência para impor respeito. A palmeirense Mancha Verde, de São Paulo, foi a precursora das violentas torcidas organizadas que a sucederam. Ele acredita que a nova era do futebol tem “re-elitizado” os estádios, trazendo uma nova estrutura de segurança, com câmeras de monitoramento e vigilância. As novas torcidas têm seguido, com influência dos meios de comunicação e dos clubes, o princípio de apoio incondicional ao time, roubando, assim, a cena dos antigos grupos de torcedores, conclui o professor.
A professora Leda Costa palestrou sobre o surgimento e as transformações que o jornalismo esportivo sofreu durante os anos. Apontou o jornalista Mario Filho como o pioneiro nessa área que era pouco valorizada nos jornais do país e confirmou a influência do célebre jornalista no desenvolvimento da editoria de esporte. A pesquisadora discutiu, também, a relação dos jornalistas com os jogadores, mostrando que o jornalismo esportivo tem-se “folhetinizado”, citando como exemplo disso a relação tensa de Dunga, ex-treinador da seleção brasileira de futebol, com a imprensa.
O evento foi promovido pelo Núcleo de Análises em Políticas Públicas – NAPP (UFRRJ), Núcleo de Estudos Sociais em Manifestações Artísticas e Bens Culturais – MABEC (UFRRJ) e Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Esporte e Sociedade (UFF).