Ditadura, Movimentos Sociais e debates marcam a 7ª Semana Acadêmica de História
por Lucas Andrey e Ivana Barreto
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Alexander Martins, Wagner Pinheiro e Ivana Barreto |
Na última semana de agosto, aconteceu, no Pavilhão de Aulas Teóricas (PAT) da UFRRJ, a 7ª Semana Acadêmica de História (SAHIS). Em função dos 50 anos do golpe militar de 1964, os temas das discussões estiveram voltados para o este fato. Contudo, também foram debatidos assuntos pertinentes aos protestos do ano passado, a ação do governo contra os manifestantes e a integração dos movimentos sociais.
O evento teve início na manhã do dia 25 com uma oficina. A primeira mesa de debates foi aberta às 13h com o tema “Memórias do cárcere e exílio” com o professor do curso de História da Rural Luís Edmundo e os convidados Carlos Eugênio Clemente, ex-comandante da Ação Libertadora Nacional (ALN), e Cecília Coimbra, do ex-Movimento Revolucionário 8 de outubro (MR8).
Os depoimentos dos convidados comoveram o auditório lotado pelos alunos da Universidade. As histórias contadas por Carlos Eugênio, mais conhecido como “Comandante”, muitas vezes tornavam-se provocadoras, noutras muito cômicas. Cecília também relatou os momentos vividos na prisão DOICOD e lembrou dos colegas que morreram torturados.O primeiro dia do evento acabou com discussões a respeito da produção e registro histórico dos acontecimentos, seja por relato vivo, produção visual, livros etc.
Na terça-feira, a Semana teve como temas os movimentos sociais, movimentos estudantis na situação atual, além de debates sobre a participação as mulheres no regime militar e como, em alguns casos, elas se tornaram protagonistas da resistência. Por último, aconteceu uma discussão sobre os movimentos rurais desde o regime ditatorial até os dias de hoje.
Na quarta-feira, 27, a primeira mesa teve como tema “Mídia construtora de um discurso”, que contou com as participações do professor e historiador da UFRJ Wagner Pinheiro Pereira, e da professora Ivana Barreto, do curso de Jornalismo da Rural. Wagner Pinheiro, em uma apresentação que incluiu a exibição de trechos de filmes de diferentes momentos desde os anos 60 até os posteriores à ditadura, empolgou o auditório e levou os alunos presentes a refletirem sobre os conhecidos “Anos de Chumbo”. Com o título “Na Câmara de Tortura da Ditadura Militar Brasileira: as representações dos “Anos de Chumbo” no cinema brasileiro (1964-2014)”, ele destacou vários papéis assumidos pelo cinema nesse período: o cinema como um espelho da realidade, enfocando as primeiras produções que refletiram sobre o contexto histórico que levou ao colapso do populismo e ao golpe autoritário civil-militar; o cinema como arma de propaganda política da ditadura e o mito do “gigante brasileiro”; o cinema no Brasil produzido nos anos da ditadura militar; e o cinema e a reconstrução da memória da ditadura por meio da redemocratização política.
Em seguida, Ivana Barreto, com a apresentação “O discurso da Mídia: a imprensa e os anos da ditadura”, falou sobre o papel da mídia impressa no período da ditadura e destacou que a maioria dos jornais, pelo menos num primeiro momento, apoiou o golpe. Pouco tempo depois, muitos intelectuais e jornalistas, assustados com a realidade extremamente repressora que tomou conta do Brasil, se arrependeram do apoio ao golpe e começaram, de diferentes maneiras, na medida que a censura permitia, a criticá-lo. A professora ressaltou também a questão do discurso jornalístico, enfatizando que, assim como os discursos de uma maneira geral, nunca são inocentes e a imparcialidade é um mito.
Depois das apresentações, ocorreram debates, quando foram formuladas várias questões pelos alunos presentes. A mediação da mesa ficou por conta do professor Alexander Vianna Martins.
Por fim, o ICHS em Foco destaca outra mesa do dia 27, “Ditadura Militar e Redemocratização”, que contou com a presença de Anita Prestes (UFRJ) e Francisco Teixeira, que, entre outros temas, abordou o que teria sido a causa principal da derrota das esquerdas: ausência de organização popular, ausência de forças sociais e políticas organizadas, mobilizadas e possuidoras de um projeto de transformação revolucionária do Brasil.