Diversidade, meio ambiente e cultura em pauta na IX SEMEX

por Andressa Braga, Bruna Rodrigues e Leandro Marlon

Entre os dias 21 e 23, aconteceu no P1 a IX Semana de Extensão (SEMEX), que este ano teve como tema “Mosaico Universidade: a extensão na diversidade, meio ambiente e cultura”. O evento é realizado bianualmente pela Pró-Reitoria de Extensão, por professores de todas as áreas de saber e grupos de estudantes organizados. O principal objetivo é possibilitar à comunidade acadêmica um espaço de debate e reflexão sobre diversos temas relacionados ao trabalho extensionista e a sua integração com a sociedade.
No primeiro dia, dedicado à temática da “diversidade”, além de poesia e música, os participantes puderam conferir, às 13h, a mesa “Estratégias de combate às opressões” e, às 15h30, a palestra “Valorização de ser negra pelo cabelo crespo”


A sustentabilidade fora do papel

“O conceito de sustentável, tal qual tem sido usado, não serve para nada.” Com esta declaração, o ambientalista Sérgio Ricardo Verde abriu o segundo dia da IX SEMEX, que teve como tema “Os impactos socioambientais dos grandes empreendimentos nas comunidades tradicionais.” Verde destacou a importância da academia na proteção a comunidades tradicionais:

– A Universidade não pode olhar só para o campo de trabalho.  Vocês têm a obrigação de enxergarem a diversidade populacional e social.

Além disso, o ambientalista ressaltou a ideia de que as questões ambientais estão longe de serem prioridade para o Rio de Janeiro. Segundo ele, na formulação dos grandes empreendimentos, o último aspecto pensado é a comunidade que vive no local:

– Seropédica é um grande exemplo, pois o metano do lixão vai tornar esta cidade uma das mais poluídas do mundo.

O pesquisador da FioCruz Alexandre Pessoa também destacou a relevância da Universidade para amenizar os impactos ambientais causados por grandes projetos industriais:

– Trabalhar com pesquisa engajada é fundamental para o surgimento de uma academia crítica e qualificada para resolver questões sociais importantes.

Pessoa comentou que a marginalização da Baixada Fluminense é uma das formas de facilitar a tomada de espaços importantes das comunidades:

– Desqualifica-se a periferia a fim de se utilizar os territórios. Existe sim, muita coisa bonita, paisagens e recursos maravilhosos nestes lugares.

O Pró-Reitor de Extensão José Cláudio de Souza Alves ressaltou que apesar das dificuldades existem vários grupos de resistência e finalizou concordando com a fala do pesquisador Alexandre Pessoa:

-É possível ter qualidade de vida neste cenário de expansão e o Brasil pode se desenvolver atendendo às populações tradicionais.

 O entusiasmo da organização

A organização do evento em foto de Buna Rodrigues
 “A semana de extensão é uma janela, aqui nos mostramos ao mundo e ele nos vê.” O comentário da aluna de hospedagem do Colégio Técnico da UFRRJ Aryane Alves reflete o entusiasmo da organização do evento.

As estudantes de hospedagem do CTUR Yara Cristina e Bianca Campo contaram que a experiência de organizar o evento é relevante:

– Para muitos de nós é o primeiro estágio.

A aluna Isabela Campo ressaltou a importância do encontro para todas as instâncias de ensino da UFRRJ:

– Estamos mostrando nosso trabalho e conhecendo outros. Além disso, temos a oportunidade de debater temas sociais urgentes, como o meio ambiente e as questões de diversidade sexual, por exemplo.

A cultura da Baixada em debate

Danielle Francisco, Alexandre Marques, José Cláudio de Souza
e Giordana Moreira em foto de Leandro Marlon
No terceiro e último dia da IX SEMEX (23), a mesa Cultura e Juventude discutiu a relação atual entre os jovens e o acesso cultural. O mediador e Pró-reitor de Extensão da UFRRJ, José Cláudio de Souza Alves, apresentou um panorama da questão cultural da região. A discussão sobre o tema da juventude contou com as falas de Alexandre Marques, mestre em História e Chefe de departamento do Patrimônio Histórico Cultural de Duque de Caxias; Danielle Francisco, produtora cultural e mestre em Educação e Cultura pela UERJ; e Giordana Moreira, produtora cultural. Os três palestrantes debateram o cenário cultural na Baixada Fluminense e criticaram a ideia de que a região não possui iniciativas nessa área.

Nas apresentações, os movimentos sociais organizados deveriam ser os agentes do processo de produção de uma política cultural, definida por Danielle Francisco como “o projeto para se viver em longo prazo, com todas as transformações possíveis”. Essa produção, segundo a mestra, diferencia-se da promoção de eventos desenvolvida pela maioria dos órgãos públicos, baseada em movimentos esporádicos e de temporalidade determinada.

A falta de mobilização política gera uma necessidade de cultura não suprida pelos órgãos públicos, argumenta Giordana Moreira.

– Falta às cidades um olhar para o interesse da área cultural. As construções pautam-se pelo mercado determinado, faltando uma política pública para este cenário.

Alexandre Marques acredita que a elaboração de uma política cultural efetiva depende de um debate entre os setores públicos e os movimentos sociais, como pesquisas nos diversos campos de saber e o fortalecimento do Conselho Nacional de Cultura.

– As pesquisas acadêmicas apresentam dados impressionantes para permaneceram somente no plano local. Elas garantem recursos para a manutenção da existência de diversas culturas, evitando a descaracterização das manifestações culturais.

Desta forma, a partir dos diversos coletivos organizados, podem-se discutir as ações culturais já existentes e propor leis que atendam esse cenário, inclusive com financiamentos, como defende Alexandre Marques.

– É necessária a criação de uma secretaria de cultura desvinculada de qualquer outra para melhor gerir os recursos e garantir ao município a participação nos debates regionais e locais sobre a temática.

A Baixada Fluminense foi apresentada como possuidora de uma riqueza material e artística dos mais variados tipos, garantindo a quebra da ideia de que nela não ocorre nada no campo artístico e de que não há público, segundo Giordana Moreira.

– A região tem toda uma estrutura e potencialidade para ser um pólo de cultura, possibilitado pelas diversas manifestações e saberes dos seus habitantes, mesmo sem um espaço adequado para a prática dessas ações.

Diversidade de gênero em pauta

A oficina de diversidade sexual da IX Semex foi dirigida pela Vice-diretora do Instituto de Educação (IE), Sissi Aparecida Martins Pereira, e despertou o interesse dos alunos para os estereótipos de gênero.

Participantes da oficina diversidade sexual em foto de
Bruna Rodrigues
A atividade inicial, que consistiu em caracterizar dois participantes com artefatos femininos e masculinos, gerou muitos comentários.  Segundo Sissi, a forma como os estudantes vestiram os personagens deixa claro o preconceito que ainda existe em relação ao que é feminino e masculino:

– Por mais que as coisas tenham mudado, quando vamos representar a mulher utilizamos a figura do avental e a imagem da fragilidade.

Ela ainda ressaltou a importância dos processos educativos para a construção de novas formas de enxergar o homem e a mulher:

– A educação é fundamental, não podemos reforçar a ideia de que futebol é atividade de homem e boneca brinquedo de mulher.

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