Erva Doce está de volta depois de alagamento

 por Henrique Faerman
Erva Doce recebe os alunos – Foto de Henrique Faerman

Os universitários adeptos de uma alimentação saudável e mais natural já podem contar de novo com os almoços alternativos na Associação Erva Doce. Foi com muita música e descontração na frente do popular bandejão, no horário de almoço, que uma banda formada por alunos que trabalham no Erva comunicaram a reinauguração do espaço gastronômico e social ao público da UFRRJ. O estabelecimento, que estava fechado desde o retorno da greve, passou por uma limpeza geral, após os incidentes ocorridos no período de recesso das aulas, no início de agosto, quando a derrubada da vegetação que protege e cerca o espaço do restaurante e uma chuva torrencial dias depois culminaram com o alagamento de água e esgoto no local.

– O que aconteceu foi chato, mas já esquecemos, estamos encarando o momento como uma renovação. Tem que ver como foi legal, montamos uma bandinha com vários instrumentos e fomos para frente do bandejão anunciar a todos alunos que já estávamos funcionando. Não deu outra, uma galera deixou a fila naquele calor e foi almoçar lá conosco, disse o estudante de 28 anos, do 3º período de Ciências Sociais, Vitor Lopes. Trabalhando há dois anos na Associação (desde que entrou para UFRRJ), Vitor conta que o movimento nesses primeiros dias está sendo muito bom, melhor do que o esperado. Sobre a inundação e a derrubada de árvores do local, o ele diz não entender porque a Universidade e o setor de manutenção não entraram em contato antes de realizar o procedimento:
– Simplesmente não nos procuraram para fazermos um trabalho conjunto. Era para podar algumas árvores, mas eles cortaram tudo. A galera que faz Engenharia Florestal aqui não entendeu nada também.
Segundo alguns estudantes que moram há mais de três anos no alojamento masculino M1, ainda que o corte da vegetação tenha contribuído para deixar a área vulnerável, a falta de manutenção no sistema de esgoto é outro problema que colaborou para a inundação, e atinge não só o Erva Doce, mas toda a região de prédios em volta. As tubulações são velhas e não estão resistindo à expansão dos alojamentos da Instituição.
Durante duas semanas, a cozinheira Luci Pinto dos Santos e seu marido se revezaram junto com alguns alunos para limpar e arrumar o espaço tomado pelo esgoto e lixo acumulados durante o temporal. Plantaram novas mudas na área devastada e tiveram que pintar o muro branco duas vezes. Talvez, o maior prejuízo – pelo menos sob o viés econômico – tenha sido a geladeira, que estragou com a água que entrou no interior do estabelecimento. Mas para eles está tudo bem. Importa é que o Erva Doce está de volta e tudo que isso representa para todos aqueles que frequentam um lugar ímpar dentro da Rural.
 Cozinha, som e convivência
Fundado por um grupo de alunos universitários em 1994, no dia 20 de julho, o Erva Doce é uma Associação de autogestão sem fins lucrativos, onde o principal objetivo é fornecer aos estudantes uma alimentação orgânica e diferente das outras opções gastronômicas mais comuns e padronizadas dentro do campus da Universidade. Um espaço coletivo e organizado, que estimula o trabalho comunitário, promovendo para os alunos uma convivência em grupo e diversas interações sociais.
Cerca de sete estudantes fixos e vários outros que entram e saem revezam-se nas tarefas diárias do restaurante, que vão desde atender ao cliente na mesa a lavar a louça e organizar a disposição dos alimentos do dia. Os pratos, que são servidos a partir do meio dia em diante, custam R$ 5,00 (inteira) e R$ 3,50 (meia porção). O dinheiro arrecadado é repassado na forma de salário para a única cozinheira, Luci Pinto dos Santos, 49 anos, quatro deles dedicados ao restaurante; o restante é usado para comprar os alimentos.
Qualquer estudante que estiver com vontade pode começar a trabalhar na Associação, basta ter comprometimento e disponibilidade para encaixar os horários das aulas com os turnos do Erva Doce (manhã e tarde). Trabalha-se de graça e come-se de graça. Pura sustentabilidade. Mas a melhor lembrança dos que passaram ou dos que ainda estão por lá é a interação e o círculo de amizade e confiança que se estabeleceu e se estabelece.
– Eu entrei aqui não só pela questão da qualidade de vida, de me alimentar bem, mas principalmente por ver um ambiente de agradável convivência e integração dentro da Rural. Não conhecia ninguém quando eu entrei. E o sujeito que chega à Rural pela primeira vez não tem mesmo nenhuma noção dessa rotina universitária. É muito interessante, então, notar como o Erva, enquanto um grupo organizado, possibilita ao novo aluno se adaptar melhor e conhecer a Universidade e os estudantes. É um grande crescimento, analisa Vitor Lopes. 
Mais do que uma alternativa de almoço, ir ao Erva Doce vai muito além de se alimentar. Há pessoas que dão uma passada por lá só para ver o que está rolando, se tem festa, algum projeto interessante, eventos, alguma concentração musical ou apenas para jogar uma conversa fora.
– É legal viver esse ambiente de extensão universitária, com a interação entre estudantes de diferentes cursos. Acaba sendo um espaço de ideias e cultura dentro aqui da Rural. Todo mundo que vem tem algo a acrescentar. Nossa proposta é cozinha, som e convivência, conta Vitor, já limpando as mesas do almoço com um paninho embebecido à álcool. 
Erva Doce depois da limpeza –  Foto de Henrique Faerman     

Parte da aprazível apuração para este texto aconteceu em uma manhã ensolarada de terça-feira, ao som de uma boa música brasileira e com uma brisa refrescante (o que é bem recorrente naquele espaço rebaixado onde se encontra o restaurante), em contraposição a um sol tropical de 28 graus no restante do campus. O cardápio do dia e da ocasião: arroz integral, feijão marrom, refogado de repolho, escondidinho de abóbora, salada de agrião, pepino e beterraba; para beber, suco de abacaxi ou água. Durante o início da entrevista com Vitor Lopes (10h20min) até o fim (por volta de 11h30min), cinco estudantes já esperavam pelo almoço em duas das seis mesas estilo refeitório (oito pessoas em cada) que o local dispõe. Ou será que só estavam ali para conversar? Eu não.

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