Espaço aberto para mídias comunitárias no segundo dia de Comunicar

por Nathália Barros e Igor Medeiros
Na última quarta-feira (19), a Semana Acadêmica de Jornalismo debateu a democratização dos meios de comunicação e a função das mídias comunitárias. O segundo dia da Comunicar! que, na noite anterior, discutiu as grandes coberturas jornalísticas, também deu foco aos direitos humanos. Após a exibição do curta A Verdadeira história da mídia brasileira, produzido pelo Intervozes, o ciclo de palestras foi aberto. Para falar sobre os temas, além da aluna do quinto período de Jornalismo, Pamela Machado, três jornalistas ligados à área foram convidados: o fundador e membro do conselho diretor da Agência de Notícias das Favelas André Fernandes; a mestra em Ciências Sociais pela UFRRJ Maria Julia Gimenez e a representante do Observatório de Favelas Piê Garcia.


Pamela Machado, que também é coordenadora regional da Executiva Nacional de Estudantes de Comunicação (ENECOS), destacou que as mídias hegemônicas representam de maneira pejorativa, principalmente, negros, mulheres e pobres. A estudante, inclusive, é uma das participantes do vídeo de “descomemoração” dos 50 anos da Rede Globo. Outro ponto ressaltado por Pamela foi a dificuldade de acesso à informação pelos deficientes físicos. Isso porque, no Brasil, recursos que deveriam facilitar a inclusão (como legendas ocultas para surdos e descrição de cenas para cegos) funcionam precariamente.


Foto de Thiago Silva 
– Os deficientes são esquecidos até quando se trata de democratização – afirmou a aluna.

Ficou a cargo da jornalista Piê Garcia abordar a relação entre o racismo e as violências simbólicas, que vitimizam moradores de comunidades. Para tanto, Piê apresentou um estudo denominado Direito à Comunicação e Justiça Racial, produzido pelo Observatório de Favelas. A pesquisa examinou diversos veículos comunitários para saber como e se o racismo era pautado nesses meios.


Piê explicou, ainda, que o trabalho desenvolvido pelo Observatório é baseado em cinco vertentes: políticas urbanas, educação, direitos humanos, cultura e comunicação. Porém, o último quesito acaba permeando os demais.

– As mídias hegemônicas costumam usar termos como menor infrator, comunidade carente,  etc. Só que, quando um garoto da classe A ou B é preso, o termo usado muda para jovem ou adolescente.  
  
Piê Garcia, Pamela Machado, André Fernandes e Maria Júlia
Foto de Thiago Silva 
Autor do livro Perseguindo Um Sonho, André Fernandes esclareceu detalhes sobre a criação do site Agência de Notícias da Favela (ANF) e seu funcionamento. O projeto abre espaço para que moradores, jornalistas ou não, possam escrever, dar opinião e, consequentemente, ter voz.

André destacou como a reestruturação do modo de trabalho pesou para o crescimento do portal. A profissionalização gerou a criação da ANF Produções que, antes, como ONG, não poderia ter propaganda.

O palestrante, ainda, pontuou a relevância que a publicidade tem na comunicação, inclusive na Agência:

– Infelizmente, não há como veículos sobreviverem sem propaganda. Não terão um crescimento. Enquanto os veículos comunitários não se prepararem para uma concorrência mínima, vão ficar só gritando contra, mas não vão ter estrutura nem para receber verba.

Maria Julia Gimenez foi a última palestrante da noite. Bacharel em História pela Universidad Del Sur, na Argentina, e mestra em Ciências Sociais pela UFRRJ, Julia contou que veio para o Brasil pela militância, mas sentiu que sua luta pela democratização não tinha lugar nos movimentos sociais, nem na agenda política brasileira. Até então, a luta pela democracia não era um problema centralizado.

Foto de Thiago Silva 
A pesquisa desenvolvida por Julia foi relacionada às manifestações de junho, algo novo para a historiadora, e que estava esquecido pelos brasileiros.

– A concentração de um tipo de informação que monopoliza a forma de ver o mundo estava afetando o movimento nas ruas (manifestações). Não estavam dando a informação que permitiria garantir as diferentes vozes de quem estava envolvido no processo. A partir daí, desenvolvi minha pesquisa – disse a professora.


No decorrer de seu discurso, Maria Julia alertou sobre perigo dos monopólios das empresas. Segundo ela, o problema não está em falar, mas em concentrar a forma de pensamento em um espaço que deveria ser repartido com a população. Uma das críticas da jornalista foi quanto à organização dos brasileiros. Para a historiadora, deve haver uma demanda nacional.

– O espaço público é um direito de todos e, nesse movimento, é fundamental pensar no que se quer e no que não se quer.

Julia apontou a regulamentação como necessidade no espaço público, e destacou a importância de haver uma concordância quanto à utilização dos veículos de comunicação. Para isso, ela citou a Lei de Regulamentação da Informação (Lei de Meios), que também implicaria na não monopolização dos meios de comunicação. Além disso, abordou o conflito da Lei em relação ao grupo Clarín, que representa a hegemonia da comunicação na Argentina. Segundo a Lei dos Meios, o grupo Clarín deveria abrir mão de parte de suas propriedades.

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