Estupros trazem a luta de gênero de volta à Rural

No mês em que o movimento Me Avisa Quando Chegar completa um ano de organização, atos protestam contra casos recentes de violência sexual no campus — por Letycia Nascimento

 

Alunas da UFRRJ realizaram uma manifestação em protesto aos casos de estupro frequentes pelo campus Seropédica e arredores, na segunda-feira, 15 de maio. Cerca de 300 estudantes seguiram para a frente da Divisão de Guarda e Vigilância da Universidade às 13h, cobrando mais segurança com ajuda de cartazes e gritos de empoderamento.

Alunas colaram cartazes de protesto pelo alojamento masculino. (Foto: Gabrielly Pereira)

O ato também contou com atividades durante todo o dia, com oficina de cartazes na Praça da Alegria pela manhã e, em seguida, uma intervenção pelos corredores do alojamento masculino. Cartazes colados nas paredes retratavam palavras de ordem, além da confecção de grafites exigirem respeito e o fim dos estupros.

O protesto interrompeu o trânsito de veículos nas ruas da UFRRJ e seguiu pacífica até a BR-465, a Rodovia Rio-São Paulo. Com a ajuda de uma kombi do Sintur-RJ (Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rural), as alunas atearam fogo em pneus e interditaram uma das faixas da Rio-São Paulo por volta de 30 minutos, enquanto discutiam e pontuavam a importância do protesto na luta das mulheres.

Em seguida, as manifestantes foram em direção ao P1, onde se reuniram com o reitor da UFRRJ, Ricardo Berbara e pró-reitores da Instituição para debater novas medidas de segurança para a região.

 

A BR-465 ficou interditada por 30 minutos. (Foto: Gabrielly Pereira)

Violência recorrente

Na semana passada, dois casos de estupro assustaram a Universidade e movimentaram as ações do #MeAvisaQuandoChegar. Após pedir carona dentro do campus Seropédica, duas estudantes foram violentadas nas proximidades do prédio da Embrapa, dentro do terreno da Rural.

Um suspeito foi preso pela polícia no dia do ato. Alexandre de Oliveira Santana, de 36 anos, foi reconhecido por três alunas da UFRRJ, vítimas de estupros no ano passado. O caso está sob investigação da Polícia Civil e segue em segredo de justiça.

Após a prisão, estudantes da Rural relataram pelas redes sociais que começaram a sofrer ameaças pelas nas redes sociais e em alguns estabelecimentos de Seropédica. As intimidações viriam de amigos e conhecidos do acusado.

 

Nas redes sociais, amigos do acusado demonstraram revolta pelas acusações. (Captura de tela de celular)

 

Violência de gênero, machismo e a estrutura social

“Até que todas sejamos livres. Até que o medo não seja mais um companheiro de rotina”,  gritavam as ruralinas. ( Foto: Gabrielly Pereira)

Localizada em uma cidade rural, a UFRRJ sofre ainda mais com o machismo dentro e fora do campus universitário. Professora de jornalismo e pesquisadora das questões de gênero e violência, Flora Daemon, acredita que não se pode deixar que os momentos de luta estudantil, contra essa e outras mazelas sociais, deixem de ser rotina.

“A violência contra mulher é cotidiana, explícita ou visível apenas às vítimas em parte considerável dos casos”, reforça Flora, atenta para a urgência em mudar a falta de segurança no câmpus da Rural. “É preciso incluir em um “pacto coletivo” disciplinas que contemplem as discussões de gênero como obrigatórias “na grade de todos os cursos: do Ctur à Pós-graduação. Para tanto docentes e discentes terão que unir esforços. Esse desafio é de todos nós.“  

 

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