I Seminário de Línguas da UFRRJ
por Lucas Lacerda
No mês passado, acontecia a primeira aula inaugural do Mestrado Profissional em Letras da UFRRJ (PROFLETRAS). E, como parte da iniciativa, o corpo docente envolvido no PROFLETRAS organizou-se, junto a alunos e colaboradores, para a primeira edição do Seminário de Línguas da UFRRJ.
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Maria Eugênia Duarte em foto de Lucas Lacerda |
As atividades distribuíram-se entre o auditório do PAT, o Salão Verde, o CAIC e o auditório Paulo Freire. Uma das palestras da noite, ministrada pela professora Maria Eugênia L. Duarte, da UFRJ, tratou do ensino da sintaxe.
Doutora em Linguística pela UNICAMP, a professora defendeu um ensino de gramática “mais orgânico”, interpretativo, afastado dos velhos paradigmas da gramática tradicional.
– Pensem nos livros didáticos, nas exigências da escola. Os alunos precisam saber ler enunciados. Se o aluno não entende o conceito, os nomes só atrapalham. – afirmou a professora, que exibiu um quadro com as variações da língua, falada e escrita, atestando que o ensino deve acompanhar as mudanças.
Gramática e livros em pauta
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Minicurso de Fábio Coelho – Foto de Lucas Lacerda |
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No segundo dia de Seminário, dentre as opções de minicurso, estava um preparado pelos professores Mônica Machado, Gilson Freire e Fábio Coelho. Intitulado Descrição linguística nos livros didáticos, o minicurso objetivou uma contextualização da educação atual, à luz dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN):
– A intenção é que se faça um estudo e se proponha uma nova descrição para o ensino. Nós precisamos diminuir essa distância entre os trabalhos acadêmicos e a sala de aula – declarou Mônica, aplaudida ao fim de sua apresentação.
Em seguida, o professor Gilson Freire continuou a esclarecer as propostas do MEC através dos PCN, comparando-as com trechos e exercícios propostos pelos livros didáticos. E, principalmente, versou sobre os mitos envolvendo as variações linguísticas presentes no imaginário brasileiro:
– Definir o que é o padrão culto é complicado, essa ideia das gramáticas antigas está ultrapassada. É preciso reconhecer sua identidade linguística, e saber transitar entre a norma culta – comentou o professor, que utilizou exemplos de livros didáticos para criticar generalizações errôneas. Esses equívocos variam, como demonstrado, dos regionalismos até as gírias sendo delegadas a classes economicamente vulneráveis.
Em seguida, o professor Fábio Coelho chamou a atenção para o reconhecimento e a contextualização das produções textuais na vida dos alunos.
– As características cognitivas, pragmáticas, sociais e ideológicas são fundamentais para que o aluno seja um produtor de texto – afirmou Fábio, que também criticou a falta de releituras das próprias produções, fundamentais para que o aluno desenvolva de fato seu texto. Ao fim das falas, os presentes puderam exercitar os conteúdos e reflexões apresentados durante o minicurso, no sentido de aplicar as teorias expostas pelos professores.
Reflexões sobre o ensino
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Roza Palomanes e Maria do Rosário Roxo |
À noite, as professoras da Rural Roza Palomanes e Maria do Rosário expuseram suas reflexões sobre o ensino de linguística no Brasil. A professora Roza, doutora e pesquisadora do ensino da língua materna, expôs brevemente um comportamento antigo e errôneo, que ensinava e utilizava a língua padrão como referência, criando uma falsa imagem de unanimidade:
– Hoje, mestres e doutores têm mostrado que ensinar língua é muito mais que gramática normativa – afirmou.
Em seguida, a professora Maria do Rosário definiu o ensino de gramática como um ato de reflexão, associado ao uso real da língua, afirmando que não se pode tratar forma e significado separadamente:
– O conhecimento não se adquire através da teoria pela teoria. Na gramática, deve ser através do texto, objeto de reflexão individual e coletiva, em contexto maior, no dia a dia e nas finalidades comunicativas – completou Maria do Rosário, também coordenadora do curso de Letras.
Para fechar o segundo dia do Seminário, o professor Edvaldo Balduino apresentou uma série de questionamentos, sobre a distância entre as diretrizes oficiais de ensino e as realidades de salas de aula.
– Havia a necessidade de produzir um documento para nortear o ensino no país, mas a questão é também respeitar as variedades linguísticas. – afirmou.
Doutor em Estudos da Linguagem, Balduino fez uma análise da chegada dos PCN nas escolas, afirmando uma certa dificuldade de absorção e desenvolvimento das metodologias propostas.
O professor ainda lamentou a confusão entre ensino da língua e ensino da gramática, atividades distintas. E criticou também a demora e os erros metodológicos frequentes no ensino, já que os livros didáticos passam por avaliação e classificação, antes de irem para a sala de aula.
– É mais fácil trabalhar com o que já está sedimentado. Fui da educação básica por 17 anos. É difícil sair dessa zona de conforto. – declarou o professor, sobre os desafios da licenciatura frente a novas posturas críticas da academia.
O Seminário estendeu-se pelo dia 19, e o sucesso da primeira edição deixou certamente um bom incentivo para as próximas.