Imagem e representação é tema da III Sacs

Por Nathália Barros e Thiago Silva

Com auditórios cheios e alunos de diversos cursos, a III Semana Acadêmica de Ciências Sociais (SACS) aconteceu de 27 a 30 de abril e teve como tema a “Imagem e suas dimensões”, dialogando sobre as formas de se trabalhar a imagem em diferentes segmentos das ciências sociais.

Para o aluno do sexto período de Ciências Sociais e membro da Comissão Organizadora do evento, Igor Rodrigues, o tema escolhido é recorrente na interdisciplinaridade das ciências sociais, que engloba a sociologia, a antropologia e a ciência política.

— A imagem sempre está nos temas das ciências sociais, pois, às vezes, é a ferramenta principal do nosso trabalho, como um filme etnográfico ou uma figura política que precisa de assistência de imagem e assessoria política. É uma forma muito boa de ver e problematizar nosso objeto, que são as sociedades. – Afirma o estudante.

Quando perguntado sobre o objetivo principal da Semana Acadêmica, Igor fala que o evento foi pensado como espaço de debate sobre as atividades de um cientista social e de como a imagem é usada para tratar esse debate.

Primeiro dia


A primeira mesa de debates da Semana tratou sobre a “Imagem na Política”, e teve como palestrantes o doutor em Ciências Políticas pela IUPERJ e professor da UFRJ Bruno Carvalho; o doutor e coordenador do programa de pós-graduação em Ciência Política do IESP-UERJ Christian Lynch; e, como debatedor, o doutor e professor adjunto de Teoria Política do Departamento de Letras e Ciências Sociais da UFRRJ Darlan Montenegro.

Bruno Carvalho abordou as visões do Ocidente sobre o conflito Israel-Palestina, considerando os questionamentos do autor Edward Said. Para Bruno, tendo as ideias do autor Said como base, a mídia teve grande participação na construção da imagem de que grande parte dos palestinos é terrorista e antissemitista, que é o preconceito ou hostilidade contra judeus baseada em ódio contra seu histórico étnico, cultural ou religioso.

Bruno Carvalho, Darlan Montenegro e Christian Lynch
— Said levanta fatos históricos que mostram que a terra onde está localizado o Estado de Israel pertencia aos palestinos. A desapropriação da terra gerou os conflitos que existem até hoje. O autor também destaca que o projeto de construção do Estado israelita não teria obtido sucesso sem o apoio dos países ocidentais aos judeus por causa do holocausto. – Discorre o professor.

O segundo palestrante do dia, Christian Lynch, tratou da construção das imagens de Dom Pedro II e Getúlio Vargas, classificando-os como grandes chefes políticos.

— Os dois, em suas respectivas épocas, representaram e personificaram a nacionalidade brasileira, construindo a ideia de nação em um país de dimensões continentais como o Brasil. – Afirma Christian.
Segundo dia

Foto de Nathália Barros
Na terça-feira, dia 28, foi exibido o filme “A Batalha do Passinho”, no auditório do Gustavão, P1. A mesa de debate contou com a presença de Emílio Domingos, diretor do filme, e dos dois dançarinos que tiveram suas vidas retratadas, Yuri e Cebolinha. 

A ideia do longa surgiu depois que Emílio se recusou a participar de um júri de dançarinos de funk. Emílio ressalta que o passinho não é só um dia em um baile funk, está no dia-a-dia deles.  Hoje, o passinho é um meio de vida que mudou a rotina dos moradores da comunidade.

O bom humor do filme foi contrastado com a morte de Gualter, o Gambá, conhecido como o “rei do passinho”, assassinado durante as edições do filme. O diretor diz que não sabia ao certo se retrataria ou não o caso, e que, aliás, produz filmes para que esse tipo de tragédia não ocorra.

O diretor do filme, Emílio, junto com os dançarinos Cebolinha e Yuri
A mesa discutiu como a mídia tradicional, por vezes, marginaliza o movimento do funk e a as tentativas recentes de mudar a imagem do morador da favela. Cebolinha afirma que os heróis da favela mudaram. Hoje, os moradores podem se espelhar nos dançarinos de sucesso, como os próprios Cebolinha e Yuri, que tiveram a oportunidade de levar seu trabalho para outros países. Não se tem mais como ídolos os traficantes, o que mostra como o funk é importante no combate ao tráfico.

Por fim, Yuri, que preferiu não falar muito durante o debate, mostrou na dança o seu potencial. Dançou com Cebolinha que, atendendo ao pedido de uma fã, fez o famoso “quadradinho”.
Terceiro dia

A quarta-feira teve como tema “Religiões, mídias e sexualidades: representações e representatividade”. As apresentações ficaram por conta da pós-doutora em Ciências Sociais e professora adjunta de Antropologia da UFRRJ Naara Luna, mediadora do debate.

Paula Alves, do Instituto Femina, iniciou falando sobre representações de gênero, apresentando estatísticas sobre a participação da mulher no cinema nacional e internacional, tanto na produção quanto na interpretação.

Em seguida, a professora do programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFRRJ Carly Machado analisou a produção midiática da Igreja Pentecostal Assembleia de Deus dos Últimos Dias, mostrando, durante seu discurso, os vídeos que se reproduzem durante os cultos e a diferença desse material para os vídeos que circulam nas mídias sobre a mesma igreja. A professora ainda levou imagens que ela mesma retratou enquanto frequentava os cultos para sua pesquisa.

Último dia

Foto de Thiago Silva
Com o tema “Usos de imagens na educação”, a mesa foi composta pela pós-doutora e professora da FEBF/UERJ Liliane Leroux; o professor da UNIRIO e pós-doutor pela Universidade de Lisboa Javier Alejandro Lifschitz e o professor da UFRRJ Amauri Pereira. O debatedor foi o professor adjunto do Departamento de Ciências Sociais da UFRRJ André Videira.

Para finalizar a Semana Acadêmica, ocorreu a exibição do filme “A lenda da criação do mundo e dos orixás”. Em seguida, houve um debate com Ana Paula Alves Ribeiro, uma das diretoras do longa.

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