Narrativa em quadrinhos vira assunto na Roda de Saberes
PorLetícia Dias
O mundo dos quadrinhos foi o tema da IV da Roda de Saberes, que aconteceu nesta segunda, dia 27, na sala 20 do ICHS. Alunos do curso de Jornalismo se reuniram a partir das 18h30m para, juntos, debaterem sobre o papel das HQ’s na construção da narrativa. Organizado pelo Núcleo de Estudos em Cultura Midiática (NECOM), o evento foi aberto pela coordenadora do curso, Rejane Moreira, que apresentou a proposta do encontro. O objetivo central é expandir a discussão sobre as várias possibilidades de pensar a práxis jornalística para além dos meios formais, trazendo sempre um convidado que ajude na ampliação desse novo olhar.
Em sua quarta edição, a Roda contou com a presença do quadrinista e ilustrador Denis Mello. Formado em Belas Artes pela UFRJ, Denis produz quadrinhos de temáticas diversas desde 2009, e foi indicado dois anos seguidos ao HQ Mix, a maior premiação nacional na área. Em 2013, foi premiado pela categoria Publicação Independente de Grupo. Independência, aliás, é um dos traços importantes de seu trabalho, que se dá por meio de encomendas, colaborações e projetos de cunho autoral. Sua primeira HQ foi produzida a convite da jornalista Beth Monteiro, em 2009. A parceria “Palestina – As Pedras do Caminho” traz uma abordagem leve e educativa sobre a questão palestina. Uma aposta recente, entretanto, tem sido operar a Goma Arábica, editora de quadrinhos educacionais.
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Foto de Letícia Dias |
Na ocasião, o artista contou sobre o início de seu interesse pelo assunto e distribuiu algumas de suas obras para observação dos alunos. Utilizando a história de Samanta, uma menina estranha que tem pesadelos absurdos e constantes, Denis fez uma análise do próprio trabalho e expôs algumas das técnicas básicas para a produção de quadrinhos, principalmente em termos de condução da leitura.
– Existem alguns recursos utilizados para orientar o leitor de forma suave, como a direção da luz e a tonalidade das cores, que influenciam na passagem do tempo. Assim, forço o leitor a entender claramente o que está acontecendo na história. – Relatou.
O ilustrador falou, ainda, sobre sua experiência e as dificuldades que encontra pelo caminho. Apesar da alta demanda de esforço e do baixo retorno financeiro, ele demonstra sua satisfação ao fazer o que gosta.
– Nos quadrinhos, você tem que saber contar apenas com a imagem enquanto representação de ações. Eu não sou estudante de Comunicação, mas me especializei bastante na forma de comunicação que eu uso. É um “trampo” pesado e eu poderia até seguir o mercado, mas não me imagino fazendo outra coisa. – Confessou o quadrinista.
Ainda que não almeje um ideal de leitor definido, Denis demonstrou preferência pelo público infanto-juvenil em diante. Segundo ele, o desprestígio das HQ’s no Brasil tem ligação com o fato de que elas foram criadas para crianças e ainda são vistas sob essa perspectiva. Outro fator que devastou a publicação de quadrinhos brasileiros, na visão de Denis, foi o período de censura na Ditadura Militar. Em contraponto, o ilustrador indica uma pré-disposição à representação imagética por parte dos seres humanos desde os tempos das cavernas, tendo se reafirmado no Egito Antigo e até mesmo na arte sacra. Quanto às “tirinhas” presentes nos jornais, o artista ainda as considera um recurso pouco aproveitado para a inserção das HQ’s na pauta cotidiana.
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Alguns dos trabalhos de Denis: “Palestina – As Pedras do Caminho” e “Beladona”.
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– O único problema que eu encontro nisso é que os quadrinhos são somente humorísticos, não há espaço para outros gêneros nos jornais. – Falou.
Durante todo o debate, os alunos participaram demonstrando suas dúvidas, curiosidades e até mesmo críticas. A conversa também foi recheada por outros pontos em torno do tema: a criação de uma categoria e a profissionalização da área; a situação dos quadrinhos independentes no Brasil; a relação entre roteirista e desenhista; e, é claro, a possibilidade de relacionar HQ e Jornalismo. O trabalho de Denis Mello pode ser conferido em seu site oficial.