Três faces da Deusa: o paganismo em evidência na UFRRJ

Documentário produzido por aluno de jornalismo destaca a essência da religião no dia a dia de estudantes da UFRRJ — por Lucas Ferreira

 

O filme “Três Faces da Deusa”, exibido pela primeira vez em 16 de fevereiro de 2016, no auditório do PAT, revela pela ótica dos pagãos Bárbara, Stéphanie e Iago, diferentes lugares e distintas crenças dentro do paganismo.

Esse é um documentário produzido pelo aluno e pagão Mateus Cabot, do 8° período de Jornalismo da Rural, para a disciplina “Projetos Profissionais em Jornalismo” e orientado pela docente do curso de jornalismo Fafate Costa. Sandro Aragão, formando em Letras, também pela Rural, é responsável pela co-direção do projeto.

 

Religião pagã

O paganismo é uma vertente religiosa, proveniente das antigas civilizações, mais precisamente das pessoas que viviam no campo, na época da Idade Média (“paganismo” deriva do termo “Paganus”, que significa “homem do campo”). Atualmente, é um termo utilizado para abranger todas as religiões politeístas, os quais possuem a crença em mais de um Deus.

Dentro do paganismo, existem duas vertentes gerais. O panteísmo, que diz respeito às religiões que possuem como divindades máximas os elementos da natureza e todo o Universo e o animismo,  atribuição de entidades divinas aos elementos do cosmo e aos elementos da natureza.

Em torno dessa base conceitual, o documentário retrata um pouco do cotidiano de três pagãos da UFRRJ. Apesar do teor acadêmico da película, Mateus nos conta um pouco sobre de onde veio a inspiração para produzir o projeto.

Para o estudante, a ideia de fazer esse filme veio principalmente da percepção de que seria necessário visibilizar a religião, pouco conhecida atualmente e reverberada de preconceito. Como mesmo anuncia na página de divulgação, o vídeo ” tem como foco debater sobre paganismo, fé e desmistificar a ideia negativa por trás da bruxaria”.

Mateus também faz parte de um grupo de paganismo/bruxaria dentro da Universidade, que realiza encontros e eventos abertos. O estudante viu a oportunidade de trazer esse tema ligado a sua vida pessoal, dimensionando-o em sua vida profissional.

“O filme não tem a pretensão de ser algo explicativo sobre a teoria do que é essa fé. É muito mais para que a pessoa que vai assistir compreenda um pouco essas outras formas de religiosidade, a partir da experiência dessas três pessoas. Ou seja, o filme não dará uma aula de paganismo, mas vai mostrar o pensamento de três pessoas pagãs. E a partir disso, desmistificar e poder desconstruir uma imagem que é um pouco caracterizada”, explica o diretor.

 

Por trás da trama

Bárbara ressalta a importância da busca por sacralidade na figura feminina, em meio ao machismo e o patriarcado.

A equipe do Portal Humanidades bateu um papo com os personagens principais do filme. Durante a entrevista, os três jovens universitários contaram um pouco sobre suas expectativas em relação ao filme, e suas percepções em relação ao paganismo.

Bárbara Gatai, 23 anos, de Campo Grande-RJ, aluna do curso de História da UFRRJ, nos conta um pouco sobre sua relação com o paganismo, o qual vai muito além de apenas uma religião.

“Pra mim, o paganismo é plural. São paganismos de diferentes perspectivas espirituais. Eu não tenho uma linha específica de trabalho. Ser pagã, pra mim, é uma filosofia de vida além de ser um caminho espiritual. Me identifico com esse caminho” , explica a personagem do filme. Bárbara também ressalta a importância do documentário, no que diz respeito à busca pelo espaço audiovisual como mecanismo de esclarecimento para sociedade.

“O bom do documentário é realmente isso, porque além dele estar tentando uma busca por desmistificar, ele também está lutando por um espaço, justamente esse espaço do áudio visual, que foi todo marginalizado em relação a esse tipo de cultura. O trabalho do Mateus é muito importante para começar a ocupar esses espaços”, ressalta Bárbara.

 

Outros olhares

No documentário, Igor também fala do momento em que percebeu que Deus não precisaria ser uma força única; uma das crenças do paganismo.

Conversamos também com Iago Ferraz, 21 anos, de Barra do Piraí-RJ, graduando em Engenharia Florestal pela UFRRJ.

Batizado no universo pagão como “Puck”, Iago fala sobre seu conceito de paganismo e da importância da diversidade pagã na história do mundo, além da expectativa positiva em relação ao filme. “Eu entendo que, o que a gente chama de paganismo hoje, é o conjunto de diversas espiritualidades, de práticas religiosas de cultos diferentes. Mas que tem em comum a ligação e a visão da natureza, como sagrada e servindo de canal direto com o que consideramos divino”.

“Eu imagino que, se a sociedade tivesse se mantido pagã, a maioria dos povos e das culturas teria juntado muita coisa. Isso porque através das navegações, do comércio e da guerra, o paganismo de um se juntaria ao paganismo do outro”, esclarece.

Iago ainda acrescenta: “Eu acho interessante a execução do filme, além de poder participar, porque, no contexto atual, quando você já tem uma formação no paganismo, é importante investir num trabalho público. Não por causa da ideia de conversão, mas na ideia de que o paganismo resgata assuntos importantes pra sociedade”.

O culto à divindade e o uso de rituais estão na rotina de Stéphanie enquanto jovem pagã.

Stéphanie Gribel, 22 anos, de Minas Gerais, cursa Ciências Sociais na UFRRJ. Foi criada na religião católica, mas atualmente segue a vertente da bruxaria, pois descobriu-se através de um amigo também bruxo. Stéphanie nos conta sobre sua relação com o paganismo e o fator essencial do documentário na contemporaneidade.

“Pelo menos pra mim, o paganismo é um lugar pra você encontrar pessoas que de alguma forma pareçam com você, tendo os mesmos gostos, a mesma crença. Mas mesmo assim não é um lugar onde você encontra pessoas iguais, que cultuem os mesmos deuses, que tem a mesma forma de fazer magia, ou até mesmo que não acreditem nas mesmas coisas, num mundo onde essas pessoas são muito ocultas ainda”, destaca Stéphanie.

 

Fanpage do Círculo Pagão da UFRRJ.

Paganismo na Rural

Em setembro de 2015, surgiu pelos arredores da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, o Círculo Pagão da UFRRJ . O grupo, formado por 7 universitários da própria instituição, incluindo o diretor e os três personagens do filme “Três Faces da Deusa”, tem como objetivo reunir as comunidades pagãs existentes na Universidade. Os encontros ocorrem tanto no Lago do IA como no Jardim Botânico, na parte da manhã e de tarde. Dentre as atividades, encontram-se aulas práticas e teóricas sobre magia com os elementos da natureza, diálogos entre as vertentes que compõem a comunidade pagã, rituais públicos e cineclubes. Os encontros ocorrem semanalmente.

 

 

Viva a diversidade

Sem sombra de dúvidas, quando o assunto trata-se de religião, a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) possui uma gama de possibilidades para seguir. Crer em um Deus Único, crer em mais de um Deus, ou simplesmente não possuir uma religião, fazem parte do cotidiano dos universitários da Rural. De 2009 para 2017, a Instituição conta com um universo de, no mínimo, 8 segmentos envoltos pelo assunto:

– Aliança Bíblica Universitária (ABU);

– Capelania Evangélica na UFRRJ;

– Célula Baurim Baruque;

– Comunidade Evangélica dos Servidores da Universidade Rural;

– Núcleo Espírita Universitária da Universidade Rural (NEU);

– Pastoral Universitária;

– AAUSA – Ateus e Agnósticos da UFRRJ-Sociedade Ateísta;

– Círculo Pagão da UFRRJ;

Desses 8 grupos, os 6 primeiros estão na lista estatística da COPLAN, grupo que realizou, em 2009, a contagem dos grupos existentes na Rural, separados por área.

 

Como assistir

Três Faces da Deusa está disponível no catálogo da TV Caiçara e foi selecionado para 14ª Convenção de Bruxas e Magos na Vila de Paranapiacaba. Assista abaixo ao documentário:

 

 

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