Para sempre mães de anjos

A história da reportagem vencedora do Expocompor Júlia Medeiros

A reportagem ganhadora do prêmio foi pensada enquanto o grupo montava o projeto da revista. Decidiram que teriam que fazer um editorial falando sobre memória. A ideia da abordagem veio de uma aula da professora Simone Orlando, que falava da repercussão de casos muito impactantes. Eles queriam falar sobre histórias que a mídia divulga muito, tem uma grande repercussão, mas que depois caem no esquecimento.

A tragédia de Realengo foi o primeiro fato a se pensar, porque comoveu até quem não era do Rio. Não era simplesmente para sanar a curiosidade das pessoas e, sim, dar uma continuidade àquilo que um dia foi primeira página dos jornais, capas de revista, noticiado em horário nobre. Na busca pelo contato para tratar algo tão delicado, conseguiram falar com Adriana Silveira, a presidente da ONG Anjos de Realengo, que deu todo o suporte para que eles conseguissem realizar a reportagem:

“Explicamos um pouco da nossa proposta, que era não falar o que a grande mídia já falava. Era falar como estava a vida delas hoje, porque, depois de cinco anos, ninguém mais sabia como elas estavam. Então, era mais um ouvir o que elas têm para contar. O diferencial foi justamente isso. Contar algo que já aconteceu, mas dar voz para essas mães depois de tanto tempo, ouvindo mais do que falando”, explicitou Luís.

O grupo também aponta que o relato das mães é de que as pessoas lidam com elas com olhar de pena, vitimando-as e reduzindo sua vida à tragédia. Essas mulheres realizam, hoje, um projeto contra o bullying, ou seja, transformaram a dor da perda em luta por outras pessoas. O atirador, Wellington, foi vítima de bullying. O trabalho que elas fazem é justamente o de combater essa prática.

 

 

Para você, o que é jornalismo humanizado?

Larissa: “Ter contato com a fonte, embarcar na história deles, nos impactar com suas histórias e mudar nossos próprios discursos. Não fomos lá dar voz para eles, eles que deram voz para nós. O meu trabalho não é colocar o que eu quero e, sim, colocar o que a fonte fala. Muitas vezes, fomos com pauta montada, tudo definido, e chegamos lá com a fonte dizendo algo totalmente diferente, muitas vezes, algo muito melhor do que esperávamos. Aprender com a fonte”.

Gabriella: “Primeiramente, ouvir. Temos um compromisso com a pessoa que confiou relatar sua história. Lidamos com pessoas, seus sentimentos, e não somos máquinas, logo, também nos emocionamos. Buscando sempre tratar com respeito e deixando a pessoa se sentir à vontade para dizer o que quer, e não cair no que quero ou acho que preciso ouvir para minha matéria. Em meus textos, busco retratar tudo que captei, tanto um olhar quanto suas falas, a essência da pessoa”.

Os alunos representantes dos trabalhos práticos tanto na EXPOCOM quanto na final do Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (INTERCOM) falam sobre a importância de inscrever os trabalhos em festivais:

Luís: “Pensar que o material que está sendo produzido não é para o professor, é para ter um retorno social. Fazemos Comunicação Social, tem que existir retorno. Essa é a oportunidade que a gente tem de levar isso para fora daqui e provar que tem jornalismo na Rural. Não estamos fazendo trabalho para passar na disciplina, é um trabalho para a vida”.

Jaqueline: “Não produzir as coisas pensando apenas em passar na disciplina, não produzir o mínimo necessário. A disciplina tem que ser um trampolim para você produzir as coisas e dar continuidade a elas para irem a outros lugares. Você quer fazer uma revista? Faz um trabalho bom, que te modifique, que tenha orgulho de mostrar para as pessoas. Um trabalho que eu retorne para minha fonte e mostre com orgulho o que saiu, que possa se propagar, que sirva para inscrever em concurso, que eu possa levar como portfólio para o estágio, que eu possa guardar de lembrança. Eu não faço trabalho para ganhar 9, 10 numa disciplina. Isso é muito pouco. Uma disciplina dura muito pouco, são só 6 meses, é você empobrecer demais seu trabalho. A gente queria dar espaço de voz a muitas pessoas. Eu chego em uma entrevistada, falo isso, ela me conta a tragédia que aconteceu, no intuito de que isso seja divulgado, ela só tem esse espaço público de voz. E eu pego esse material depois que eu termino e ponho na gaveta? É uma traição à pessoa que contou a história dela para mim, é uma traição total da proposta do trabalho, da proposta do que é ser jornalista”.

 

Falta de recursos

A falta de infraestrutura do curso é algo evidente, uma vez que os laboratórios não funcionam como deveriam e os equipamentos não são apropriados. Portanto, não é possível alcançar excelência técnica. Mas, não é só isso que contribui para o êxito de um trabalho prático. Os estudantes dão dicas para quem faz Jornalismo na Rural e para quem pensa em entrar:

“Se não tem um laboratório, as coisas complicam, óbvio. A gente faz trabalhos ótimos, mas acabam pecando na questão técnica porque a gente não tem o equipamento correto e tudo mais. Isso não significa que você não possa produzir um trabalho a nível de festival. Não é só a técnica que é avaliada, tem toda uma questão de concepção, de criatividade do tema, de tratamento do tema. Também não pode se deixar limitar. ‘Ah, é Seropédica, é afastado, não tem laboratórios, o curso é novo…’ A gente enfrenta essas dificuldades. Cada instituição tem a sua. E ninguém se deixa limitar por isso, por que a gente deixaria? É acreditar em si, técnica se aprende no meio do caminho, no momento que você não sabe editar o vídeo e você vai aprender. O que mais conta é a sua vontade de fazer, e o seu tratamento humano”, alega Jaqueline.

“Todos nós somos capazes, só basta querer. O que faz você produzir algo bom é sair da caixinha. Eu aprendi a fotografar sozinha, li livros, tutoriais, fui aprendendo a manusear a câmera. Eu decidi aprender sozinha e, no 2º período, já estava fotografando”, conta Larissa.

“Confiar muito no seu trabalho. Não existe técnica, não existe equipamento que faça um bom profissional. O diferencial das turmas que estão chegando agora é acreditar no potencial, independente de ter a parte técnica ou não. Conseguimos fazer um jornalismo que, às vezes, algumas faculdades não conseguem. Possuem a parte técnica e esquecem a parte humana. A gente corre muito atrás das coisas. E esse correr atrás é o diferencial da Rural”, reitera Luís.

“É muito complicado você querer e não ter uma boa estrutura, parece que isso nos limita. Causa um desânimo inicial, mas precisamos aprender a lidar com o que temos e ir aperfeiçoando o que aprendemos não só em sala de aula. Digo isso, pois muitas coisas aprendi estando em contato com outras turmas, perguntando para outras pessoas, buscando por cursos gratuitos, já que não tenho condições de pagar. Ter em mente o compromisso com o entrevistado que confiou na sua história e buscar fazer um produto final à altura desses relatos. Organização também é fundamental, senão o trabalho não sai. Todo trabalho de jornalismo é feito em conjunto, particularmente dispenso qualquer tipo de competitividade que existe no meio, valorizo um bom relacionamento com a equipe, pois nenhum trabalho final “perfeito” vale um desgaste emocional. Não deixem de fazer, façam, errem e aprendam. A nossa maior ferramenta inicial são nossos ouvidos”, afirma Gabriella.

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