Por dentro do Sufismo e do pensamento místico

por Letícia Dias e Rafaela Arraes

Nesta última semana, o auditório Paulo Freire do ICHS foi local de encontro para discussão sobre assuntos como pensamento místico, desconstrução do ego e constituição do pensamento contemporâneo. Entre os dias 5 e 8 de maio, das 9h às 12h, aconteceu um minicurso sobre o Sufismo e as questões em torno dessa prática, com Beatriz Machado, pós-doutoranda no Departamento de Filosofia da USP. O evento foi uma realização do Grupo de Pesquisa em História Social.

Beatriz Machado em foto de Thiago Silva

O Sufismo, como explicou Beatriz, faz parte de uma corrente mística derivada do islamismo. No entanto, não pode ser pensado como religião ou ciência, mas sim como um modo de vida que busca o autoconhecimento e uma experiência direta com o divino por meio da mística. Em razão do preconceito em torno do misticismo, essa doutrina tem sido ignorada no meio acadêmico há mais de cinco séculos. 

Nos dois primeiros dias do curso, a Beatriz levantou debates sobre a noção que geralmente temos da palavra transcendência, um exemplo de que é necessário livrar-se de associações predefinidas socialmente. A busca da interioridade, segundo ela, seria o caminho escolhido pelos sufistas para avistar um mundo de possibilidades. Ela apontou o “mundo encantado” como sendo proveniente de uma época anterior à modernidade. A perda dessa visão mística pode ser melhor compreendida através do conceito de “desencantamento do mundo”, de Max Weber. A partir de então, pode-se notar o aparecimento não só das novas relações de trabalho, visão científica e espaço de mercado, mas também das noções de normalidade e personalidade, idealizadas em meados do século XIX. Mesmo assim, ainda existem vários sufistas espalhados pelo mundo, inclusive no Ocidente. 

– A decadência da mística é o moralismo. – completou Beatriz. 

Durante o restante do curso, foram feitas aplicações do pensamento místico, focando no aspecto político e nas questões de gênero, entendidos enquanto performances de acordo com o discurso vigente. Tornou-se discussão o conceito de BARZAH, um dos principais pontos sufistas, que representa a possível transição do pensamento entre os aspectos sensorial e perceptivo das coisas. Seria necessário, desse ponto de vista, conhecer a linguagem por trás da realidade objetiva. Para o sufi, como também se pode chamar, a imaginação é uma forma de conhecimento, pois produz uma experiência concreta interna.
Foto de Thiago Silva

– Toda realidade tem uma dualidade. Toda realidade é terra ou céu, é possível ou impossível, é coisa ou Deus. O outro tem sempre uma forma visível e uma forma invisível. Não existe saber permanente acerca do outro. Sobre a realidade, cada um tece suas tramas. O que criamos é um campo imaginativo próprio para o outro.

Durante todo o curso, foram utilizados textos de autores do Oriente, como Ibn ‘Arabî, Romi, Attar e Idries Shah, além de mencionadas as tradicionais histórias das Mil e Uma Noites. A Lei da Reminiscência de Platão também o torna um profeta considerável no Sufismo. Para os alunos que presenciaram o minicurso, uma questão fica: como o sufismo e o pensamento místico podem contribuir para o pensamento contemporâneo?

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