Primeira turma de Comunicação Social da UFRRJ se forma com sentimento de dever cumprido
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Foto Lucas Andrey/ Thiago Silva |
*Por Ana Júlia Marin, Caroline Feijó, Gustavo Carvalho, Luis Henrick Teixeira e Thamara Lopes.
Os frutos de quatro anos e meio foram colhidos depois de muito esforço por parte dos alunos e professores da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). No dia 12 de setembro, formou-se a turma de pioneiros de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, curso derivado do Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais do Brasil (Reuni).
A história do curso na Universidade Rural começou com a professora Simone Orlando, jornalista e doutora em Letras pela UFRJ. Em 2009, ela e mais um grupo de professores foram encarregados de criar as diretrizes do novo curso, que seria implantado com o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) de 2010. Esse formato de ingresso seria novidade também para a Universidade que, anteriormente, tinha seu vestibular próprio e começou a utilizar as notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
A intenção de criar as diretrizes, com autonomia e trabalho coletivo, tinha o intuito deinserir um curso que levasse a cultura digital para os discentes, de maneira que pudessem se adaptar ao novo perfil profissional da área. Com o ápice da comunicação através das redes sociais, muitos caminhos surgiram para os seus profissionais, meio de grande importância para investimento na matriz curricular. No início, o corpo docente era composto por seis professores, número que no ano de inauguração foi para dez.
No Sisu de 2010, foram concedidas 45 vagas para a nova turma. Desde sua introdução, o curso é oferecido no horário das 18h às 22h, com a maioria de suas aulas no Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS), localizado no campus de Seropédica, a aproximadamente 70 km da capital do estado do Rio de Janeiro.
Simone foi coordenadora por quatro anos e vivenciou todos os avanços da implantação na Universidade. Com o passar dos anos, o curso ganhou cada vez mais espaço e reconhecimento dentro da Rural.
Além dos avanços, o Jornalismo passou por inúmeros desafios, sendo o mais primordial a execução de laboratórios para aulas práticas e a compra de equipamentos como os de fotografia, vídeo e rádio.
– Os desafios foram muitos, desde a implementação curricular até os laboratórios de rádio e TV. Fico um pouco frustrada de não poder dar a parte técnica aos alunos pioneiros da forma que eu gostaria, mas fico muito feliz em saber que todos estão estagiando bem, estão empregados e tiveram toda a atenção para um currículo bom a fim de enfrentar o mercado de trabalho – analisou Simone.
A criação da revista comemorativa de 40 anos do ICHS, assim como o blog do Instituto, fez com que a Comunicação se firmasse e expandisse seu espaço. Outro fator importante é a atuação de estagiários na própria Rural, trabalhando na Coordenadoria de Comunicação Social (CCS), que recebeu esse nome depois que o setor foi assumido pela professora de Jornalismo, Cristiane Venâncio.
– A Universidade Rural sempre teve cultura própria, a qual foi estendida à antiga Assessoria de Comunicação, atual Coordenadoria de Comunicação, com a presença de bolsistas. Hoje, nós podemos dizer que existe uma parceria com o curso Jornalismo, porque ele oferece muita teoria e nós aqui temos a oportunidade de oferecer a prática para os alunos, principalmente na área de assessoria e de jornalismo impresso, com foco na área institucional. Eu vejo isso como um ponto extremamente importante, uma demonstração de maturidade dessa parceria entre curso e coordenadoria.
A professora e atual vice coordenadora, Alessandra de Carvalho, diz que o cargo é de ajuda à coordenação e o trabalho feito é coletivo, para continuar os processos de consolidação do curso. Também cita a falta de material e conta um pouco sobre as dificuldades enfrentadas:
– O que tínhamos naquela época era exatamente o que temos hoje em termos de instalações. A partir do segundo ou terceiro semestre, compramos algumas câmeras de fotografia para as aulas. A expectativa era imensa! Quer dizer, era um desafio muito grande começar um curso de jornalismo em uma universidade com tradição na área de agrárias. E este desafio permanece hoje.
Havia muita expectativa dos alunos em praticar o jornalismo realizado no rádio e na TV. Porém, por se tratar de um curso embrionário e pelas limitações dos processos burocráticos da universidade pública, não havia nem o material básico para iniciar os trabalhos. Por outro lado, a motivação desses jovens e a coordenação empenhada em desenvolver um ensino melhor, mesmo que com opções limitadas, pensaram em alternativas simples e eficazes. A atual coordenadora e vice, na época, Rejane Moreira, usou a verba do seu laboratório para comprar gravadores digitais. Assim, utilizando programas simples de edição de áudio em software livre, com a ajuda do ex-professor de radiojornalismo, João Paulo Malerba, começou a realizar jornalismo com seus alunos praticamente a partir do nada.
“É um curso que foi construído e
se reconstrói com e na relação professor-aluno,
não tem como não dar certo.“
João Paulo Malerba, professor homenageado de Jornalismo.
Para Rejane, que foi escolhida para ser paraninfa da turma, a expectativa em relação aos alunos era e continua sendo que eles consigam pensar e fazer jornalismo:
– Tenho um carinho muito grande por eles. A turma como um todo é muito talentosa, muitos conseguiram estágios excelentes, outros optaram pela carreira acadêmica. Espero que consigam entender tudo o queríamos passar.
Malerba ajudou a driblar os problemas enfrentados e emprestou seu próprio material para que conseguissem desenvolver atividades com mais desenvoltura. Uma lição que leva consigo, percebida desde então, é a de que mais importante que qualquer bem físico é o desejo, a dedicação e a criatividade.
– Afinal, o bom jornalismo requer, mais que recursos e instrumentos técnicos, olhar crítico, preocupação ética e vinculação social. E isso a primeira turma de jornalismo da Rural tem de sobra.
Professor homenageado
Para João Paulo Malerba, foi uma grande e grata surpresa ter sido escolhido professor homenageado pela turma, pois os alunos não haviam dado pistas que o fizesse cogitar a possibilidade. Segundo ele, apesar de não mais lecionar na Rural, manteve uma relação próxima e de muito carinho com vários alunos e professores, além de se emocionar ao lembrar do texto lido durante a homenagem:
– É algo que vai marcar minha vida de professor para sempre. Já faz um tempo que descobri que minha vocação é mesmo lecionar e isso faz com que eu tenha certeza de que é esse mesmo o caminho a ser seguido.
Aparentemente, a conexão com a turma pioneira foi instantânea. Houve generosidade por parte dos estudantes ao aceitá-lo como professor estreante e compreender suas limitações, sem contar na vontade e disposição para experimentar todas as possibilidades do rádio, as quais ele propunha. Tanto que não poupa elogios aos seus queridos:
– Havia uma conjunção de pessoas talentosas e dedicadas ao jornalismo, e sinto que tive muita sorte em conhecê-los e trabalhar com eles. Foram dois semestres experimentando e crescendo juntos. Acredito que isso se deve também ao modo como o curso de jornalismo da Rural está estruturado e o modo como todo o corpo docente se relaciona com os alunos, com responsabilidade, dedicação, sinceridade e horizontalidade. É um curso que foi construído e se reconstrói com e na relação professor-aluno, não tem como não dar certo.
Comissão de formatura
Ser da comissão de formatura da primeira turma formada em Jornalismo não é fácil, ainda mais com tantos problemas enfrentados com o tempo, não só no curso como na Universidade. Carolina Ribeiro, aluna responsável por essa tarefa, enfrentou diversos desafios para representar sua classe, além de carregaro peso da função que a levou a se tornar a razão de muitos dos aplausos no final de uma jornada de quatro anos e meio:
– Para resolver os problemas, principalmente com a empresa que fechamos o contrato e com a comissão da Universidade, precisa ter muito jogo de cintura. Tudo acabou contribuindo de alguma forma para que saísse conforme o planejado. Minha função como representante da comissão era pesquisar a empresa mais barata, montar o roteiro, escolher as músicas que iriam compor a cerimônia, a ordem em que as coisas iriam ocorrer e tentar em pequenos detalhes homenagear os formandos e todo o curso.
No caminho, a comissão de formatura encontrou dificuldades que fizeram alguns desses detalhes saírem diferente do planejado.
– Burocracias com certeza encontramos, as quais deixaram mais complicado seguir os nossos planos de que tudo seria perfeito. Mas mesmo com todos os casos enfrentados foi realmente muito bonito, diferente e conseguimos, de alguma forma,cativar todo o público presente–explicou.
Quando questionada sobre projetos futuros, a recém-formada foi enfática em sua resposta:
– Pretendo fazer outra graduação, mas nunca largar o jornalismo, porque eu amo fazer isso
A visão dos pioneiros
Com as aulas iniciadas no primeiro período de 2010, o curso, como qualquer outro quando está começando, sofreu e ainda sofre algumas dificuldades características do novo. Porém, segundo a aluna Jéssica Reis, a turma resolveu encarar os obstáculos com uma postura de enfrentamento e resistência.
– Nós poderíamos nos sentir como cobaias por três motivos que amedrontavam: o diploma havia caído recentemente, o MEC poderia ou não validar o curso depois de um período que já estaríamos cursando e a Rural não era nem de longe uma universidade renomada na nossa área – comentou a recém-formada.
Ainda de acordo com Jéssica, ela e seus colegas se depararam com muitas dificuldades estruturais do curso, como a falta de equipamentos, corpo docente pouco diversificado, ausência de disciplinas optativas ligadas à área e deslizes na fidelidade à condição de um curso noturno.
Para o também aluno da classe estreante, Kilber Moreira, terem sido os primeiros significou que os métodos e grade curricular foram testados com eles, ou seja, o que dava certo seria levado adiante para as turmas posteriores e o que não dava seria descartado.
No entanto, a grande complicação parece ter sido mesmo não conseguir adquirir uma maior experiência prática com rádio e TV por falta de laboratório. Mas, segundo ele, as dificuldades de estrutura com o tempo e a experiência vão acabando.
– Eu acho que a coordenação acertou muito mais do que errou. Num resumo geral, os prós superam os contras – argumentou.
O curso foi levantado sob um tripé bem estruturado que juntou os professores, que buscavam sempre atender as demandas dos alunos e ensinar além das dificuldades, os próprios estudantes, os quais se esforçaram ao máximo para fazer com que tudo funcionasse e batalharam para a adequação do ensino dentro de uma universidade com protagonismo histórico no campo das agrárias, e a coordenação superior, a qual viu no novo curso uma ótima oportunidade para investir na Comunicação Institucional.
Aos poucos, o curso conquistou seu espaço dentro da Rural e, de acordo com a reitora Ana Dantas, que discursou no dia da colação de grau, não dá para imaginar a Universidade, hoje, sem o curso de Jornalismo, pois a sua entrada na grade significou para a totalidade da instituição a mudança no cenário comunicativo.
“Espero estar sempre comprometida
com tudo aquilo que foi dito no juramento
da Comunicação Social, transformação da sociedade,
enfim, fazer o bem.“
Pollyana Lopes, aluna recém-formada em Jornalismo pela UFRRJ.
As alegrias de ser ruralino são muitas, segundo os ex-alunos. De cada pôr-do-sol no famoso Lago do IA (Instituto de Agronomia), a cada “choppada” e aula bem aproveitada, a ceia de Natal no restaurante universitário, os 100 anos da universidade comemorados com o show dos Paralamas do Sucesso, o amor e o orgulho pela UFRRJ aumentavam sempre mais. Apesar de estar longe da casa dos pais e do centro do Rio de Janeiro não ser tão fácil, é também construção no caráter do indivíduo, pessoal e profissionalmente.
– Aquele clichê de que “tudo mais difícil é melhor” se faz realidade na Rural. As batalhas são diárias: chegar a tempo para comer no bandejão, administrar a grana da bolsa para que dure até o fim do mês, saber ponderar responsabilidade e curtição, aguentar o calor desértico que faz durante a metade do ano (porque na outra metade é um frio quase glacial), conviver com pessoas novas como se fossem da sua própria família – ressalta Jéssica. – No mais, foi uma escolha acertada. Sou eternamente grata por esses anos.
Pollyana Lopes, nascida em Itaoca, interior do estado do Rio de Janeiro, veio para a Rural e passou toda sua graduação vivendo no alojamento. A formanda conta que, desde que chegou, se encantou com a Universidade e a vida levada pelos estudantes. Apaixonada por comunicação, viu através dos estágios o amor pelo jornalismo:
– Gosto muito da atuação do jornalista. Isso de poder fazer muitas coisas diversas, poder visitar lugares, conhecer pessoas e a cada dia estar com uma pauta diferente.
Entre as dificuldades apresentadas pela estudante no período de adaptação do curso, concorda que a falta de equipamentos fotográficos suficientes e a ausência de professores foram alguns dos problemas. Porém, isso não interferiu para que tivesse uma boa formação.
Com apenas o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) pendente para apresentar, a formanda já pensa no futuro.
– Primeiro eu quero formar, terminar minha monografia e depois seguir minha carreira profissional. Espero estar sempre comprometida com tudo aquilo que foi dito no juramento da Comunicação Social, transformação da sociedade, enfim, fazer o bem – conta Pollyana.
Quanto à mais nova ex-aluna, Carolina Vaz, e até então membro do Centro Acadêmico da Rural (Caco) e atual componente da Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação (Enecos), relata querer ser uma comunicadora social ética e consciente, frisando que durante o seu percurso na Rural teve muitas boas experiências e se encontrou na militância, tema que serviu de base para o seu TCC. Além do mais, elogia bastante sua mãe como pilar de sua formação:
– Eu não teria ido muito longe sem a ajuda dela no meu projeto de pesquisa e agradeço muito por isso.
Com um sorriso estampado no rosto, ela deixa a seguinte frase para a posteridade ruralina:
– Estudem e vivam essa universidade!
*Matéria produzida por alunos do 2º período do curso de Jornalismo da UFRRJ para a disciplina Impresso I