Campos de Altitude: Definição e Endemismos no Parque Nacional do Itatiaia

O Bioma Floresta Atlântica apresenta diversos ecossistemas associados, entre eles incluem-se os campos de altitude. Os campos de altitude ocorrem nas partes elevadas dos maciços montanhosos da serra do Mar e da Mantiqueira, que se soergueram principalmente durante o Terciário. Essas formações florísticas são constituídas principalmente por espécies arbustivas e campestres situadas junto aos afloramentos de rochas, principalmente a partir de 1.200 metros de elevação. Os ambientes naturais em altitude usualmente se diferenciam de seu entorno e tem alta importância referente ao alto grau de endemismo de fauna e flora. Chamam-se endemismos grupos taxonômicos que se desenvolveram numa região restrita. Em geral o endemismo é resultado da separação de espécies, que passam a se reproduzir em regiões diferentes, dando origem a espécies com formas diferentes de evolução.

ICMBio - Parque Nacional de Itatiaia - Visitor Guide

Pico das Agulhas Negras. Imagem retirada de ICMBio – Parque Nacional de Itatiaia

O PNI abriga aproximadamente 5.000 espécies de insetos, 384 de aves e 50 de mamíferos, além de inúmeros répteis e anfíbios, muitas das quais endêmicas ou ameaçadas, como o sapo flamenguinho (Melanophryniscus moreirae), a onça parda ou suçuarana (Puma concolor), o macaco muriqui (Brachyteles hypoxanthus), entre outras. As espécies endêmicas são ponto focal de preservação dos ecossistemas, exatamente pelo fato de, sendo endêmicas, são exclusivas daquela região. Espécies endêmicas correm maior risco de extinção, pois modificações em seu habitat podem eliminar todos os indivíduos da espécie, reduzindo a biodiversidade.

Melanophryniscus moreirae Fonte e Créditos: João Marcos Rosa – Agencia nitro

O Flamenguinho (Melanophryniscus moreirae) é o símbolo do PNI, ele vive nos campos rupestres e só é visto em altitude superior a 2400m.  É  uma espécie de anfíbio da família Bufonidae, esta espécie faz parte do único gênero desta família capaz de sequestrar alcaloides lipofílicos da dieta.     

Melanophryniscus moreirae Fonte e Créditos: Tacio Philip Sansonovski – www.tacio.com.br

Anfíbios possuem uma grande diversidade de toxinas na pele que os defendem contra predadores e patógenos. Essas substâncias podem ser produzidas endogenamente ou sequestrados da dieta composta por artrópodes. A diversidade de toxinas presente na pele de um indivíduo representa o balanço entre o tempo de vida, a produção e/ou sequestro dos compostos e a liberação dos mesmos para proteção. O número de alcaloides foi explicado pela idade, demonstrando que quanto mais velho é o animal, mais ele se alimentou, e maior é a probabilidade de ter se alimentado de diferentes fontes de alcaloides e existem estudos que explicam uma parte da variação de toxinas em anuros. Os alcaloides são aminas cíclicas responsáveis pelo sabor amargo, e atuam como defesa química, também  existem estudos que detectaram compostos biossintetizados. A preservação do Flamenguinho é imprescindível, ele só existe lá e não foi introduzido. 

saudade (Lipaugus ater) | WikiAves - A Enciclopédia das Aves do Brasil

Lipaugus ater Fonte: WikiAves

Há outras espécies de animais de altitudes elevadas presentes na região da Mantiqueira, como a ave Lipaugus ater. Trata-se de um notável endemismo principalmente do alto das Serras da Mantiqueira (Minas Gerais/São Paulo/Rio de Janeiro), dos Órgãos (Rio de Janeiro), da Bocaina e do Mar (São Paulo), estes dois últimos, conforme recentes registros neste sítio. O nome popular dessa ave passeriforme é Saudade, por possuir um canto melancólico.

 

 

 

Há pouco tempo houve um novo registro de comportamento alimentar do porco-espinho Coendou spinosus (F. Cuvier, 1823) em campo de altitude da Mata Atlântica brasileira no Parque Nacional do Itatiaia. Esta espécie de porco-espinho possui hábitos noturnos e costuma ocupar áreas de até 900m de altitude e sua dieta é basicamente folívora e em arvores. Os autores registraram C. spinosus em um habitat de campo aberto acima de 2100m de altitude, é a maior altitude de ocorrência na qual essa espécie já foi registrada. Ainda não se sabe o motivo do uso desse habitat por essa espécie e o comportamento dos porcos-espinhos nesses ambientes, mas alguns autores sugerem que os recursos alimentares em campos de altitude podem ser mais abundantes do que se pensava anteriormente (Raboy et al. 2013, Axmoff 2015).

Coendou spinosus Fonte: iNaturalist

Além da fauna, os campos de altitude apresentam alto endemismo de flora, como por exemplo Fernseea itataiae, é endêmica do Brasil e ocorre somente na região da Serra da Mantiqueira próximo à divisa entre os Estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. A espécie tem distribuição restrita (EOO=2.710,73 km²) ao Planalto do Itatiaia, onde ocorre em formações campestres e em afloramentos rochosos em elevadas altitudes, sob condições úmidas e frias. Paepalanthus itatiaiensis é uma espécie restrita aos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro (BFG 2015), pertencente a família Eriocaulaceae. Em Itatiaia, foi encontrada formando grandes populações em solos arenosos, em toda a extensão da parte alta do parque, floresce nos meses de outubro a março.

Fonte: Jardim Fitogeográfico

Paepalanthus itatiaiensis Créditos: Shutterstock.com

No parque há várias pesquisas e algumas estão relacionadas aos solos de altitude e a conservação desse ambiente parte da conservação do solo, e a manutenção das espécies está diretamente ligada ao ambiente. Ademais, os campos de altitude são ricos em biodiversidade e apresentam extrema importância e ecossistemas complexos que devem ser preservados.

 

 

 

 

Texto por: Laura Brito, Bolsista PROEXT\UFRRJ Edital 25/2020.

Orientação: Lúcia Anjos

Grupo do Projeto: @anappessim @mariamarquesadm @netocseduardo

@m.mziviani @rob_marcondes @pereiramicaelle e Roberto

Referências utilizadas:

de Abreu, T. C. K., Rosa, C. A. d., Aximoff, I., & Passamani, M. (2017). New record of feeding behavior by the porcupine Coendou spinosus (F. Cuvier, 1823) in high-altitude grassland of the Brazilian Atlantic Forest, Mammalia81(5), 523-526. doi: https://doi.org/10.1515/mammalia-2016-0026

Freitas, Sânia Nayara dos Santos; Trovo, Marcelo. Eriocaulaceae no Parque Nacional do Itatiaia, Brasil. Rodriguésia,  Rio de Janeiro ,  v. 68, n. 4, p. 1387-1395,  Sept.  2017.  https://doi.org/10.1590/2175-7860201768419.

http://cncflora.jbrj.gov.br/portal/pt-br/profile/Fernseea%20itatiaiae

https://revistapesquisa.fapesp.br/a-riqueza-dos-campos-de-altitude/

https://www.icmbio.gov.br/parnaitatiaia/

https://www.wikiaves.com.br/wiki/saudade

Jeckel, Adriana Moriguchi. Defesa química em Melanophryniscus moreirae: a diversidade de alcaloides aumenta à medida que os indivíduos envelhecem?. 2015. Dissertação (Mestrado em Zoologia) – Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. doi:10.11606/D.41.2015.tde-01102015-135856.

Vasconcelos, Vitor. (2014). Campos de Altitude, Campos Rupestres e Aplicação da Lei da Mata Atlântica: estudo prospectivo para o Estado de Minas Gerais. Boletim de Geografia – UEM. 32. 110-133. 10.4025/bolgeogr.v32i2.18624.

 

 

 

 

                        

 

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